15 de novembro de 2003

O HOMEM DO TERNO AZUL


O programa Comunique-se, na allTV, que comemorou neste sábado seu primeiro ano de existência, difundiu horas de conversa com o maior jornalista do país. Esta coluna agradece aos responsáveis pelo programa, que incluíram uma pergunta que enviei por e-mail, e ao Mino Carta, que ao responder fez uma referência à minha participação na sua equipe da revista Senhor, nos anos 80.

ECLETISMO - A pergunta era a seguinte: “Mino, qual a comparação que você faz entre a revista Senhor e a Carta Capital? “ A pergunta era direta e guardava uma ansiedade: fico sempre surpreso que Mino fale muito da sua fase no Jornal da Tarde, na Veja, na Istoé, na Quatro Rodas e na Carta Capital. Ele sempre pula a Senhor. A resposta, magnífica, como tudo o que Mino diz e faz, foi mais ou menos assim: “Existe um parentesco entre as duas revistas, com uma diferença que a Carta Capital é mais eclética e original, enquanto a Senhor era mais voltada para a política e economia, e baseada na The Economist.” Na sua resposta, Mino me descreveu como “um bom companheiro naquela jornada” e observou (nada escapa ao grande mago) que de uma certa forma eu estava reivindicando essa sintonia entre as duas publicações, no que ele concorda plenamente. Acrescento: uma das minhas lutas na redação da Senhor era exatamente a favor do ecletismo. Achava a Senhor extremamente amarrada. Foi por isso que, ao convencer Mino a incluir uma seção de Livros – que ficou primeiro apenas nas obras que faziam parte do espectro da revista (política, economia e negócios) - consegui, depois de alguns anos, introduzir resenhas sobre literatura. O que dizer desse momento em que considero uma homenagem por parte de um homem justo, que consegue enunciar claramente o que costuma pousar dentro de nós nem sempre de forma clara, que é de uma coragem sem fim, que serve de exemplo para jornalistas e cidadãos de todas as profissões? Ele ensina a inventar o próprio emprego, ensina a não abdicar de suas convicções, ensina a enfrentar os poderosos, ensina a ser sóbrio e ao mesmo tempo emocionado, abraçado de coração ao ofício, ao Brasil, ao povo e aos seus colegas, aos quais sempre que pode faz homenagens e dá crédito. Nada mais justo: ele sabe como ninguém despertar na equipe o que cada um tem de melhor e respeita sempre o trabalho alheio.

DÍVIDA - Mino é uma universidade humana, no sentido maior da palavra: sua cultura é universal, seu comportamento é de cidadão do mundo (uma bênção para quem, como eu, está preso no país continental), e seu senso de justiça é inspirador. Estou devendo (não a ele, mas a mim) a leitura dos seus dois livros, onde mergulharei em breve, não apenas no Castelo de Âmbar quanto no recente A Sombra do Silêncio, que nosso amigo comum Wagner Carelli está lançando pela sua W11. Para quem não assistiu ao programa e não costuma, como eu, ver sempre o que Mino tem a dizer ao vivo ou por escrito, explico o título da edição de hoje do Diário da Fonte: quando foi convocado por seu pai, pela primeira vez, a fazer reportagens, Mino acreditou que um terno azul bem talhado seria ótimo para abrir portas e conseguir seus objetivos na profissão. A sutileza com que ele conta uma história, suas metáforas e ironias, seus advérbios e adjetivos que são ornamentos clássicos de uma vida substantiva , fazem de Mino um dos mais gratificantes contemporâneos, uma pessoa com quem temos orgulho de conviver prestando atenção nas suas palavras esculpidas com rigor e bom humor.

RETORNO - 1. Leia na seção Em Pauta, do Comunique-se , artigo "O Iluminista Quântico", que aprofunda este assunto abordado aqui.
2. Já estou sendo recebido com entusiasmo pelos meus conterrâneos, que festejam minha visita a Uruguaiana na sexta-feira próxima, quando irei participar da Feira do Livro organizada pela Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do município, a convite do próprio secretário, Bebeto Alves. Rubens Montardo Junior, Miguel Ramos , Anderson Petroceli, Ubirajara Raffo Constant, mais Tabajara Ruas, Luiz de Miranda, entre muitos outros, estaremos todos numa confraternização cultural e pessoal que pretende fazer história .

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