2 de abril de 2005

O PODER EXERCIDO PELA AUSÊNCIA DO ESTADO



A ditadura civil entrou em acordo com a parte armada da nação: deixou intacta as estruturas, as convicções, as histórias, as ideologias, os hábitos de quem possui as armas, e portanto a força. O motivo principal é o cagaço: nossos governantes se pelam de medo de farda, revólver, tiro, espingarda, metralhadora, bazuca, canhão, espada. Como são profundamente covardes, e deixaram intocados o núcleo do monopólio da violência (que espalhou-se para as quadrilhas do crime) eles se servem do caos para usufruir dos recursos da nação. O poder civil não enfrentou o poder armado e rifou a população, que ficou à mercê da bandidagem (que não enfrenta oposição nenhuma, já que a violência do Estado não está sintonizada com o poder de governar, é um corpo à parte) . Enfrentamos uma situação complicada: o Estado se retirou da segurança, da saúde e da educação (com honrosas exceções; aqui em Floripa constroem escolas a todo momento). Quem exerce o poder são pessoas encasteladas em seus privilégios, que impõem o terror pela ausência do Estado. O resultado é o chamado brasileiro, esse ser odiado dentro da nação.

REPORTAGEM - A revista Reportagem da Oficina de Informações traz matéria de capa intitulada A Grande Derrota, sobre a eleição de Severino na Câmara, assinada por um dos diretores executivos, Raimundo Rodrigues Pereira (que conheci na redação da revista Senhor, da Editora Três) . A edição de outubro de 2004, que estou lendo, traz uma série de artigos sobre o Mal-Estar no Brasil. Trabalhos de psicanálise e crítica marxista à situação de horror em que nos encontramos, abordando o pânico, a depressão, o narcisismo, o sadomasoquismo. Assinado por professores da USP (Crochick, Safatle, Dunker, Minhoto e Ab'saber), a série, absolutamente imperdível, lança luzes sobre nossos problemas com uma força e um rigor que não se encontra na imprensa brasileira. Tales Ab'saber coloca em discussão a indústria do seqüestro e seu aparato complexo de crime organizado como uma organização política pelo avesso. Escrevendo sobre depressão, Leon Crochik diz, textualmente: "Quando os indivíduos se tornam cada vez menos necessários para a reprodução da ordem social, tornando-se um estorvo, a volta a si mesmo pode implicar, cada vez mais, o abandono dos vínculos sociais, e assim a morte psíquica e depois o suicídio". Em cada edição, existe um caderno de opinião sobre temas fundamentais. Nessa edição, de outubro, a reportagem de capa assinada por Tânia Calari revela que apenas cinco mil famílias, das 48 milhões existentes no país, concentram a maior parte da riqueza e todo o poder (ou seja, apenas 0,0001%). Vou assinar a revista. Proponho que todos os leitores deste Diário da Fonte façam o mesmo. É mensal, custa 60 reais por ano e vale a pena. Dá para assinar pela internet(www.oficinainforma.com.br).

DIREITA - O pensamento reaça rules pela internet. Um artigo apócrifo intitulado Brasileiros Pocotós comenta a grana gasta pela população no paredão do Bigbrother, dizendo que tudo vai de mal a pior: "E piorou. Sabe por quê? Porque o brasileiro quer. Chega de buscar explicações sociais, coloniais, educacionais. Chega de culpar a elite, os políticos, o Congresso. Olhemos para o nosso próprio umbigo, ou o do Brasil. Chega de procurar desculpas quando a resposta está em nós mesmos". Respondo o seguinte: 1. Quem formata o comportamento da população é o Estado. Quando a radio Nacional e a Mayrink Veiga difundiam, maciçamente, música brasileira de qualidade, o povo brasileiro gerava uma linhagem de talentos: podia começar com Dalva de Oliveira, depois ia para a Angela Maria e desaguava na Elis Regina. As emissoras associadas foram responsáveis por implantar talentos populares como Dorival Caymi (negro, saído da Bahia muito pobre). João Gilberto nasce desse acervo, já que escutava essas emissoras no interior da Bahia. 2. A Globo é sustentada pelo Estado, já que deve os tubos e recebe uma grana preta (um milhão de reais dia) do governo para tocar sua programação. O Estado assim estimula o Bigbrother. A população reage à altura. Não é que "o brasileiro" seja uma bosta. O que é uma bosta são as políticas públicas. Não fique indignado. Procure entender como funciona. Sinta-se brasileiro.

RETORNO - Comemorando a venda completa da primeira edição do seu romance O Terrorista do Pampa, lançado na Feira do Livro de 2004, Tailor Diniz anuncia sua estréia na mídia guerrilheira do blog: www.tailordiniz.zip.net/

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