21 de novembro de 2005

TUNGA EM TINGA




Tinga, ex-gremista e agora no Internacional de Porto Alegre, entra na área perigosamente e é derrubado pelo goleiro corintiano. O arbitro Márcio Resende de Freitas não dá o pênalti, ainda expulsa Tinga e assim tira as chances de o Colorado ser campeão do Brasileirão, pois o desempate que viria do pênalti colocaria os dois times em igualdade de condições. É um escândalo com precedentes. Em 1995, o mesmo Marcio anulou um gol do Santos numa decisão contra o Botafogo, para desespero dos torcedores santistas, que enchem a internet de denúncias sobre esse jogo. Sem querer entrar em seara alheia, acredito que esse é um assunto para o "Ministério Público, que é a entidade responsável pela garantia da ordem jurídica, do regime democrático, da moralidade pública e dos direitos sociais e individuais. A instituição é independente, ou seja, tem autonomia com relação aos três poderes - Executivo, Legislativo e Judicial. A sua principal atribuição é a fiscalição da aplicação da lei e os seus membros - promotores e procuradores - atuam como defensores da sociedade perante os três poderes". O árbitro depois pediu desculpas. Tarde demais. Se foi crime, não adianta arrepender-se. Se não foi, é muita coincidência. Ou absurdo, como disseram os comentaristas esportivos. Absurdo não tem lógica. É preciso entender a lógica desse lance decisivo.

CRAQUES - Polícia Federal desbarata quadrilha da Receita Federal que tungava empresas, dava o serviço, a partir de notas fiscais, para os assaltantes de caminhões, eliminava a terceira via das notas para arrancar propina dos devedores. Se o empresário se recusasse a entrar no esquema, qualquer coisa era motivo para multa pesada. Ponta de um iceberg? O sistema tributário, burocratizado e draconiano, é um convite para a tunga, como berra a sociedade há décadas. Tudo fica como está. Sai e entra governo e o embrulho continua. Nas fuças de todo mundo, a corrupção avança. Quem nos defende? Kia, o irariano dono do Corinthians, surgiu do nada e convenceu os torcedores, que passam por cima das denúncias para comemorar o título que já está no papo. A paixão corintiana, legítima, nacional e popular, não merece ser envolvida nisso tudo. A paixão colorada, que forra o Rio Grande de bandeiras vermelhas, não merece ser erradicada de suas esperanças em apenas um lance. O time gaúcho vai lutar com todas as forças. Mas, para mim, já está decidido. Este é o pior campeonato brasileiro de todos os tempos. O que se destaca é Romário, que ontem fez mais dois gols. Tem jogo? Romário está lá. Tem área? Romário ocupa seu espaço. Tem chance? Romário aproveita. Nunca vai parar de jogar. Irá de time em time, de gramado em gramado, com a bola na mão, convidando: o dia está glorioso, vamos jogar futebol. Quando o futebol nos falta, há Romário, o craque do Brasil soberano. O cara que ficou, misteriosamente, de fora, na copa de 98, aquela que entregamos de bandeja para a França, quando não tocamos na bola depois de um episódio obscuro envolvendo Ronaldo Fenômeno. Ontem, Ronaldinho Gaúcho comeu com farinha todo o time de estrelas do Real Madrid. É por isso que ele foi embora. Estaria como Tinga, sendo tungado. Mas está lá, brilhando como nunca. Lá, onde os juizes corruptos pegam uma cana braba.

FUTURO - A manhã clara e sem vento nos inunda com brisa quase fria e a primavera enfim dá as caras. Talvez por um ou dois dias. Mas já vale a pena. O mar, calmo, convida à praia. A areia faz barulho sob pressão dos nossos passos. As gaivotas se enquadrilham em cima do poste de luz e caem como kamikases nas ondas promissoras. Velhos, crianças, mulheres, atletas, todos estão na beira da divindidade salgada. Os morros verdes ficam de sentinela. O sonho é possível, na paisagem cheia de promessas. As palavras nos chegam como presentes neste final de ano. Escrevo sem parar diante do país em sobressalto. Quando teremos paz na diferença, equilíbrio e distribuição de renda? Conseguiremos sim, num certo dia, aquele que conseguirmos criar sem violência, apenas com nossos braços, abraçados a um futuro enfim aninhado em nosso exausto coração. Será um dia glorioso.

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