20 de janeiro de 2006

A DITADURA DO DINHEIRO FALSO


A ditadura financeira instalou-se no Brasil com o golpe de 1964. Os militares levaram a culpa, mas quem assumiu o poder foi a pirataria internacional, que continua no poder usando dinheiro sem lastro, pura especulação financeira, que serve para tungar o patrimônio de países emergentes. O Brasil foi sucatado em função de objetivos estratégicos. Henry Kissinger disse que não permitiria que surgisse uma potência ao sul do Equador . Tudo isso está na entrevista que o candidato de Gilberto Vasconcellos para a presidência da República (pelo PDT), o físico e engenheiro Bautista Vidal, deu para a Caros Amigos. Como falo essas coisas há anos aqui no DF, decidi transpor alguns trechos, que são de deixar qualquer um de cabelo em pé.

"Na hora em que Roberto Campos assumiu o Ministério do Planejamento e o Castello Branco entregou o poder a eles, nunca mais largaram. O Andrada Serpa, então membro do alto comando militar, general quatro estrelas, não tinha um décimo do poder que o setor financeiro tinha. Isto é, a ditadura financeira, sim, realmente surgiu no período militar.

1979 foi um ano de ruptura. Porque países como o Brasil, especialmente o Brasil, com uma imensa potencialidade, principalmente em termos energéticos, estavam tomando decisões e medidas que irremediavelmente provocariam uma mudança no poder mundial. Isso assustou o poder real, e houve dois ou três pronunciamentos decisivos em 1979, ano de muitas reuniões do grande capital financeiro internacional, de onde saiu a famosa frase de Henry Kissinger: "Não admitiremos um outro Japão ao sul do equador". Outro Japão, conversa! O Japão não tem energia, não tem minério, é uma ilha nua. Temos a base dos materiais estratégicos do planeta.

A rigor, a moeda é uma coisa extremamente importante, é uma invenção extraordinária da humanidade, posto que é o símbolo de todas as riquezas. Além do valor simbólico, existia o valor intrínseco, era de ouro, de prata... Costumo usar o exemplo do Kublai Khan, potentado que controlava o dinheiro, tinha um grupo de ministros da Fazenda que assinavam aqueles papéis e eles valiam como se fossem ouro. O ouro acabou, eles passaram para o bronze... e aí o seu grande império ruiu, porque o dinheiro não valia nada. Passou a ser uma grande empulhação. Isso está ocorrendo até hoje de maneira escandalosa, e à beira de um colapso, porque se avalia que o papel-moeda circulante seria no mínimo cinqüenta vezes a riqueza que deveria representar, ou seja, cinqüenta vezes falso.

Então é um sistema completamente desacreditado, falido, os bancos estão caindo aos pedaços em todos os países, nos Estados Unidos, no Japão, prevê-se um colapso a qualquer momento. Agora, o que sustenta isso é uma coisa absolutamente crucial - é que, devido à ocupação militar do Oriente Médio, esse papel compra petróleo. Pronto, ele passa a ser um papel legítimo porque compra o bem essencial que movimenta o mundo, a energia. É uma garantia exclusivamente militar, e exclusivamente dos Estados Unidos. Então, hoje, a moeda se ancora no poder militar, e daí compra petróleo. Só que é um poder transitório, porque o petróleo está acabando.

As coisas resultam de uma dinâmica cujas peças essenciais estão, por exemplo, na fraudulência do dinheiro. Pronto, basta isso. Temos de ir nos pontos de origem e causa, todo o resto é decorrência. Monta-se um sistema financeiro em que produzir alguma coisa é inviável. Nem cocaína dá as respostas que a usura financeira impõe sobre nós. Somos um país condenado à ruína pela inviabilidade do instrumento que é o símbolo de todas as riquezas, que compra tudo, até mesmo as consciências, empurra a mídia, é emitido de forma absolutamente arbitrária, sem nenhuma fundamentação e com critério de poder sem limite, de uma ditadura mundial que é uma máfia centralizada no Fed, o banco central americano, que emite sem dar satisfações a ninguém. Então, como pensar num processo de competição, se o símbolo de todas as riquezas é algo arbitrariamente controlado e emitido ao bel-prazer de uma máfia secreta? O processo de competição é absolutamente inviável. E exatamente nessas condições os dirigentes brasileiros falam em "competição", "abrir o mercado", quer dizer, são uns loucos, na melhor das hipóteses.

As operações com moedas ultrapassavam 250 trilhões de dólares, o que não significa circulação, porque há muitas operações repetidas com a mesma moeda. Há instituições que analisam o quadro e dizem isso. Agora, o que realmente circula está entre 40 e 60 trilhões, que já é um absurdo. Para uma relação de trocas de bens e serviços da ordem de 4 trilhões, circulam 40 trilhões... no mínimo é dez vezes falso. Você só pode emitir moeda baseado na riqueza que realmente circula. Esse dinheiro circula no campo internacional, não tem a ver com o dinheiro interno dos países. Na prática, o que circula internacionalmente são as trocas de bens e serviços internacionais, que são da ordem de 4 trilhões e não podiam ser de 40, depois de expurgar as duplicações.

Isso significa que estão emitindo sem lastro. Como a emissão é uma coisa monopólica, de um grupo que é uma máfia secreta situada nos Estados Unidos, eles estão emitindo além da riqueza real. E, assim, sem controle de ninguém, eles podem se apoderar dos patrimônios do mundo, a troco de nada."

RETORNO - 1. A imagem é do pintor belga Jean-Michel Folon, da série Un orizzonte poetico, que está na mais recente edição da melhor revista cultural da Internet, Sagarana. 2.Leonardo Boff, no La Insignia, diz a mesma coisa: "Com a autonomização da economia e o enfraquecimento dos estados-nação é ilusório pensar que os presidentes eleitos sejam os que têm o comando sobre o pais. Quem decide os destinos reais do povo não é o Presidente. Ele é refém do Ministro da Fazenda e do Presidente do Banco Central que por sua vez são reféns do sistema econômico-financeiro mundial a cuja lógica se submetem. Quando o Presidente Bush fala à nação muitos seguramente o escutam. Mas quando fala o presidente do Federal Reserve (Fed) a nação inteira pára. O que ele tem a dizer significa a vida ou a morte de muitos empregos e do destino de empresas. Os donos do mundo estão sentados atrás dos bancos, são os que controlam os mercados financeiros, as taxas de juros, as infovias de comunicação, as tecnologias biogenéticas e as indústrias de informação."

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