9 de janeiro de 2006

MEIA VOLTA, VOLVER





A morte do general Urano Bacellar com um tiro na cabeça coloca a participação brasileira na intervenção do Haiti fora da ordem mundial. Se nossas tropas foram garantir segurança para a população, como reza a ONU, e as tropas estrangeiras estacionadas no país perdem seu comandante de maneira misteriosa, dentro do seu próprio quarto, morto pela própria arma, não quer dizer que fracassamos, mas sim que estava tudo errado desde o início. A pífia cobertura da mídia nos traz uma certeza: toda vez que há uma morte abusada, explícita, ampla e imediata, para usar as palavras do governo brasileiro sobre a investigação que pretende fazer no local do crime, a imprensa praticamente se cala. Foi assim com o médico legista do caso Celso Daniel, que morreu também misteriosamente depois de dar entrevista para Jô Soares confirmando suas denúncias de que a vítima fora torturada antes de ser assassinada. Há medo, para não dizer cagaço. Tudo indica que depois da bem sucedida missão em Timor Leste de Sérgio Vieira de Mello, os bandidos internacionais não deixarão que o Brasil, com sua vocação pacifista, mude o rumo dos acontecimentos. O que interessa à indústria de armas e à extrema direita é o caos e o sangue. Soluções, nem pensar.

BRAVOS - Traga os soldados de volta, Lula. Diga para a ONU: agora é com vocês. Perdemos nosso comandante, que enlutou o Exército e a família. Não transforme o Haiti no nosso Iraque de araque. Diga: foi um erro, virem-se. Por que temos lá 7.200 bravos, um contingente muito maior do que os dos outros países? Enfrente as contradições naturais das Forças Armadas e encontre as melhores soluções. Cuide do nosso território, tão invadido. Arranque essas bandeiras estrangeiras da Amazônia. Não deixe que FAB exiba aquelas aviões pesadões e antiquados e coloque a Embraer a serviço da renovação da frota. Temos uma porção gigantesca do planeta em nossas mãos, fruto de luta insana por séculos e gerações. O Brasil é uma obra política de primeira grandeza, não pode atolar-se na miséria de um outro país, que de nós deveria receber apenas ajuda civil e não remunerada. Não participe do que querem fazer no Haiti, onde as eleições se aproximam e a ameaça de massacres se torna cada vez mais concreta. Retire-se com honra, pois perdemos um bravo, vítima não da refrega franca e aberta em campo de batalha, mas de algo sinistro que ronda o futuro daquele país. Não deixe que enlameiem as Forças Armadas brasileiras, presidente. Tire seus capacetes azuis e coloque de novo o verde oliva. Traga os rapazes de volta, Lula. Antes que seja tarde demais. E desista dessa besteira de Conselho de Segurança da ONU. Não temos segurança nem na esquina, no que podemos contribuir para segurar o mundo?

BATALHA - Não compactue com algo que você não entende direito, presidente. Veja no que transformaram nossos soldados, em luta salarial por meio das esposas, sem poder sustentar os novos recrutas no número adequado, sem instrumentos, com seus acervos sendo invadidos pelo tráfico de armas, com mortes inclusive dentro dos quartéis. Num espaço militar, um oficial foi morto porque colegas quiseram roubar seu carro, lembra-se dessa notícia que sumiu da mídia? Não incentive mais a identificação das Forças Armadas com a ditadura. Historicamente, elas são muito maiores do que esse período complicado da vida nacional. Queremos admirar nossos soldados, presidente. Queremos que a flor das gerações encontre na caserna a formação completa e gloriosa da cidadania. E incentive o debate sobre tudo o que aconteceu com a participação militar. Procure entender as Forças Armadas brasileiras e não tentar abraçar, com sua megalomania, o mundo que nos escapa. O modelo não é o Bush, presidente. É o Duque de Caxias, que venceu o Paraguai no campo de batalha e não compactou com o massacre da população promovido por aquele europeu pomposo, o Conde D'Eu. Não compactue com a explosão que vai ocorrer no Haiti, presidente. Se nossos soldados voltarem num funeral, como acontece agora com o general Bacellar, prepare-se para arcar com um erro histórico. O maior da sua desastrada gestão, que tanto mal faz ao Brasil.

RETORNO - Foto de Marcelo Min sobre o Velho Chico: vamos cuidar da nossa casa.

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