18 de janeiro de 2006

RETORNOS DE VERÃO




Uma frente fria insiste em ficar na ilha já que o mormaço de Sampa impede que aqui se dissipe o frio e o vento. Mas tivemos um esplendoroso verão nas duas primeiras semanas de janeiro. Banhos de manhã e à tardinha, com direito a duchas generosas no meio da tarde, quando o sol venenoso impede que fiquemos na areia.

O mar atrai visitas ilustres, e a primeira delas foi a de Delmar Marques e Denise, que aqui estiveram por uma semana, depois de passarem pela Guarda do Embaú e Campeche. Abastecido de alguns exemplares do livro do Delmar sobre os índios minuanos, recebo de presente o documentário em dvd que ele produziu numa pequena e eficiente câmara Sony. Me avisa que está já no segundo livro da saga, em adiantado estado de criação.

Rumo ao sul da ilha, passo por todos os terminais de ônibus para visitar Tabajara Ruas, recém saído de intensa atividade como cineasta. Seu General e o Negrinho promete ser o grande acontecimento cinematográfico de 2006, com performances poderosas de Tarcisio Meira Filho, Miguel Ramos e Werner Schunneman.

Aqui ao lado de Ingleses, na praia de Cachoeira, encontro pessoalmente pela primeira vez, depois de muitos anos de amizade telefônica, profissional e virtual, meu amigo Paulo Paiva, jornalista da pesada, um dos caras mais bem informados da República (qualificação que ele, na sua modéstia sincera, não concorda), que aqui esteve com mulher e filhos para uma temporada no litoral. Paulo me fala do que a imprensa faz ao selecionar notícias de escândalos e me coloca por dentro de fatos impressionantes. Conversar com Paulo, gentil, sério e receptivo, é estar no centro dos acontecimentos. Ele me repassa livro de poemas de um estreante, que ainda vou comentar aqui no DF.

Pelo telefone, ao entardecer, no início da semana e reinício do meu trabalho na editora Empreendedor, converso animadamente com Miguel Ramos, que elogia o poema publicado aqui no blog, Ponte de Pedra, escrito sobre foto de Anderson Petroceli. Miguel Ramos é emoção o tempo todo, generoso nos seus comentários.

Na editora, folheia duas edições que fiz com a brava equipe da empresa: a mensal, com bela capa de Gustavo Cabral e Carol Herling sobre a longevidade dos produtos antigos, reportagem de Fabio Mayer, e a semestral, sobre negócios rurais, que estampa uma das paixões do diretor da Empreendedor, Acari Amorim produtor de vinho. No final do ano, Acari nos apresentou uma jóia da sua produção (feito em parceria com outros sócios), um legítimo Quinta da Neve, de São Joaquim, já elogiado por especialistas.

Parece crônica social? Nem um pouco. O verão é quando as pessoas estão em trânsito, banhadas de sal, felizes por estarem fora de suas rotinas, elogiando a ilha e seus encantos, apesar do trânsito e da lotação. Dizem até que este ano está meio murcho em termos de movimento, com pessoas com pouco dinheiro andando por aqui. Gerente do supermercado onde faço compras aqui perto chama essa população de duristas. São os tempos de arrocho, que parecem não ter fim.

Mas a chuva fina expulsou todo mundo da praia, que foi lotar os shoppings. Hoje, para trabalhar, passei algumas horas dentro de ônibus lotados. É o custo de quem vive neste recanto, onde existe o Planeta Terra.

Luis de Miranda me envia excerto de seu novo livro de poemas, onde em um trecho sou homenageado.

Há uma pausa na acidez das palavras. São os retornos do verão. Nada melhor do que ilustrar do que a foto de Gustavo Cabral, editor de arte da Empreendedor, e participante do blog coletivo ilhéu Maisdeum.

ESPECIAL - De manhã, Paulo Paiva comentava que num avião cheio de estrangeiros, todos liam um livro. À noite, chegam as palavras avassaladoras do lúcido Gilberto Vasconcellos: "O capital videofinanceiro é a junção do banco com a mídia. Há um entrosamento entre os dois, sendo que no Brasil o vídeo estrutura o capitalismo bancário, no seguinte sentido: a televisão é um órgão, é uma ponta-de-lança do capital financeiro, dos interesses internacionais. Então, nós estamos vivendo num país específico, pois em todo lugar você tem a televisão e o banco. Mas, no Brasil, o peso do vídeo é absolutamente determinante. Por quê? Porque somos uma sociedade ágrafa, ou seja, a população não conhece as Letras, e todo mundo vê televisão. De modo que a televisão é um agente que está na infraestrutura econômica. Não é mais aquela superestrutura ideológica que se pensava antigamente. Não. A televisão é um componente fundamental do processo político. A televisão faz o Estado; a televisão determina o rumo da consciência. A televisão determina a atitude da nossa vida. Isso tudo está estruturado nessa fusão com o banco, com o capital financeiro, sobretudo o internacional, que é quem banca a mídia".

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