24 de março de 2006

O DESPLANTE NO PODER

A dança da deputada na Câmara é uma demonstração de força de quem nos governa. Não se trata do PT nem do Planalto, ou do PSDB, se fosse o caso. O que nos governa é o desplante. Assim funciona a ditadura. Baseados em artigos críticos de especialistas, podemos traçar o roteiro. Primeiro, coloca-se os juros no teto para atrair bastante moeda estrangeira. O excesso de oferta acaba colocando o dólar lá embaixo, certo? Não é o real que se valoriza, é a abundância do dinheiro estrangeiro que arrocha o câmbio. Os custos fazem crescer rapidamente a dívida interna, pois a bufunfa precisa sair de algum lugar.Ao mesmo tempo, se enxuga a demanda interna para não estragar o banquete (e assim, à custa da estagnação, debelam a inflação) . O que chamam de política econômica raspa a poupança do país, pois os juros excessivos provocam altas despesas, não é mesmo? Uma das maneiras de tapar o buraco é aumentando imposto, o que já se revelou insuficiente. Por que fazem isso? Porque são capachos da pirataria internacional e porque levam algum (e não é pouco), já que todo o sistema, para funcionar, precisa da corrupção.

MIAMI - O mais perverso é que o dólar acessível restaura um dos mais sagrados direitos em época de ditadura: o de gastar a rodo em Miami ou Buenos Aires. Subornar parte da classe média - via dólar barato e remuneração régia de aplicações financeiras - é um dos mais velhos truques do regime instaurado em 1964 e que até hoje está em vigor (o movimento Diretas-Já foi derrotado, lembram? Quem assumiu em 1985, inaugurando a atual fase autoritária, foi o ex-presidente do PDS, José Sarney). O truque alimentou o chamado milagre brasileiro. Já podemos antever que a festança dura até outubro, nas eleições. Como o PSDB já confessou, via FHC, que a política econômica não vai mudar, e já se disse que a saída de Palocci também vai manter esse quadro inalterado, então é esse desplante, esse cinismo diante da miséria do país que faz a deputada dançar alegremente pelo ambiente luxuoso onde se instalou com o voto do povo, iludido em sua boa fé. Eles vivem no melhor dos mundos: o dinheiroduto está ligado a mil, enquanto a nação, na seca, olha bestializada o comportamento dos seus governantes.

FUTUM - Meu zap é muito ativo, já que disponho apenas de alguns canais de TV aberta. Fujo tanto dos programas que esses dias me flagrei vendo propaganda: tem menos baixaria. Uma passadinha pelo Bigbroder me fez, horrorizado, enxergar uma seqüência sobre o cheiro daquela casa, em que o futum que saía das partes impudendas ganhavam dimensão de computação gráfica, com glégous coloridos exalando das cavernosas reentrâncias desumanas. Isso tudo pontuado por conversas divertidas entre os participantes e o moderador Pedro Bial. Não houve um tempo em que esse sujeito se autodenominava poeta? No fundo, ele representa esse desplante no poder, que tudo faz e tudo se perdoa, pois a engrenagem nacional está nas mãos deles. Quatro redes de TV num país de 180 milhões é puro monopólio. Colocar goela abaixo do telespectador sem opção um espetáculo triste desses faz parte do jogo. No fundo, os confinados representam o povo brasileiro: inativos, iludidos com a ascensão lotérica, e em guerra de todos contra todos.

RECREIO - Antonio Callado explicou um dia que nossa democracia é como um recreio no internato. Os alunos correm, fazem algazarra, mas bate o sino e todos voltam ao normal. Agora intensificaram e inovaram o processo: a algazarra é a própria ditadura. Deixem a macacada gargalhar, é para isso que servem. Eles precisam sobreviver, certo? Então a gente raspa o cofre deles todos os dias, enquanto eles brincam de votar. Não é preciso mais chamar a farda. Um professor, um operário, dão o recado. O importante é destruir o Brasil, essa nação utópica que já foi soberana e hoje amarga a ressaca de um dia ter tido essa ousadia.

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