15 de outubro de 2006

O CENTRO DAS LUTAS ESTÁ VAZIO





O sistemão encontrou o caminho das pedras: deixa todo mundo brincar de democracia (quanto mais brincar, mais divertido fica), enquanto invade países, vende armas adoidado, expropria PIBs por meio dos juros da dívida externa, rebenta com o meio ambiente, fatura os tubos deixando que todo mundo tire a roupa e seja cool, e ainda cacifa movimentos de luta para que acreditem que estão vivos. O sistemão sabe conviver com a falta de centro na Internet, com as paradas gays (até descola algum para isso), os gritos dos excluídos (que a população detesta porque interrompe o trânsito) e as homenagens aos antigos escravistas transformados em heróis. O mais trágico é que se fala numa nova utopia, como se a antiga, a democracia, já fosse carta fora do baralho, já tivesse sido conquistada, agora seria partir para algo ainda maior e mais profundo. Vivemos na velha tirania, como recreio em colégio interno. A toda hora, nos recolhemos ao bater o sino.

RABO - O que me impressiona é que muita gente não entende porque existe tanta apatia, porque o povo não participa da democracia. Porque a ditadura é quem dá as cartas, é por isso. O povo não é trouxa. Não se trata de propor algo novo para galvanizar a massa, é preciso ter a coragem de assumir uma luta de verdade contra a ditadura, aí o povo se mobiliza. Porque do jeito que vai, a população chega até a gostar de ditadura, já que ela entende como democracia o atual estado de coisas. Tínhamos ditadura sem que ninguém exibisse o rabo em praça pública. Hoje temos ditadura com pessoas exibindo o rabo em praça pública, essa é a diferença. Chamam de democracia, mas não é. Por que insisto nisso? Porque diariamente vejo artigos que não levam essa evidência em consideração e se perdem em conjeturas. Vamos falar claro: tente peitar os verdadeiros poderes para ver o que te acontece. E quais são eles? O sistema financeiro, o coronelato civil, o continuísmo político e econômico. Não adianta vaiá-los, eles não se importam. Tente tirar o dinheiro do bolso deles. Aí verás com quantos paus se faz uma boa democracia.

PALAVRAS - É difícil assumir que lutamos em vão, que não houve avanço, que retrocedemos, que tudo foi por água abaixo. Mas no seu emprego tente propor algo que contrarie qualquer interesse poderoso . Vão te chamar de louco, alienado, fora da realidade. Tem que se submeter enquanto faz pose de grande democrata livre e cidadão responsável e politicamente correto. Baixe as calças com pompa e circunstância. No fundo todos sabem onde estão metidos, só não querem admitir. Ah, você é muito radical. Sou nada. Apenas enchi o saco de mentir para mim mesmo. Não faço parte dos produtores de pensamento oficiais, os que fazem joguinhos de palavras para esconder o que pega realmente. Minha luta no jornalismo é contra as falas corporativas, que contaminaram e dominam as redações. Sobra ainda muita coisa, pois esse é um poder imenso e há vários obstáculos para se fazer reportagens. A ditadura financeira não permite que as empresas respirem e as pessoas que inventam seu emprego (que remédio!) abrindo um negócio acabam fechando as portas ou continuando com muito sacrifício. São exceções, mas existem. É difícil exercer o ofício hoje, com tanta pressão.

PECADO - Nas falas da esquerda, ser empresário é pecado mortal. Nas falas da direita, empresa e emprego são as palavras de ordem. Isso não significa que os empresários tenham que ser perseguidos ideologicamente. Os empresários brasileiros, em sua imensa maioria, são da classe média, não dominam os meios de produção. Esses estão na mão de grandes grupos, que fornecem os insumos. Ter uma fabriqueta de chinelas não é a mesma coisa do que ser dono do mercado do plástico. Nessa diferença, morreu Neves.

PASTOR - Mas hoje é domingo, para que se preocupar com essas coisas? O Senhor é meu pastor, nada me faltará.

RETORNO - Imagem de hoje: foto publicada para ilustrar poema de Che Guevara, na revista Sagarana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário