15 de março de 2007

SOBRE A INVEJA


Quando não te olham na cara, quando desviam o rosto na hora em que cruzam contigo, quando são flagrados com expressão dura e impassível, quando desconfias nos cochichos algo que não consegues detectar direito, mas sabes que é do Mal, não tenha dúvida: é a inveja em pleno exercício de suas funções. A inveja é o oposto da admiração e seu insumo principal é a proximidade. Pessoas ao teu lado combinam que deves pagar pelo que és, entrar pelo cano, como se diz. Para que funcione, é preciso o discurso pseudo politicamente correto: no fundo, és culpado, uma pessoa injustamente privilegiada, então a inveja tem plena capacidade de se manifestar, medrar, crescer e no fim te engolir.


É fundamental que não desconfies do tamanho do buraco onde estás metido. Eles no fundo não te tratam mal, até sorriem e fingem que te escutam. Mas quando há uma oportunidade, e essa oportunidade é normalmente num ambiente coletivo, já que são covardes, são incapazes de lutar a descoberto, então está feito o embrulho . A covardia é especialista em confundir a própria inveja com alguma espécie de justiça a ser feita. É preciso que tudo volte ao seu leito normal, já que és uma inundação no leito seco. Nem tente intervir no deserto: a areia gosta de ser ela mesma e tudo faz para que qualquer espécie de água afunde nos pés de uma sede irreversível.


Covardes unidos gostam de produzir incêndios. E aguardam o momento certo, em que reuniram forças para te pegar na curva. Te expulsam do convívio, te apunhalam pelas costas e voltam a sorrir para ti. Claro, estão cheios de razões. São sofredores profissionais e não suportam a existência de pessoas que fogem do lugar comum. Querem teu sangue, mas fingem que estão fazendo o que é correto. Vestem-se de boas intenções e de uma pseudo valentia, pois é importante que a covardia não fique à mostra. De que estou falando? De ambientes profissionais, principalmente. Mas nos ambientes de parentesco costuma funcionar mais ou menos do mesmo jeito. Em ambos os casos, a proximidade faz a hora. E se por acaso começarem a te encarar bem nos olhos depois do serviço feito, também não tenha dúvida: todo invejoso, além de covarde, é descarado.


Admirar é invejar alguém à distância? Acredito que não. Admirar é reconhecer a superioridade alheia, é mirar-se no exemplo, é rezar para que a pessoa admirada continue com saúde e produzindo cada vez mais. Isso pode ser feito longe ou perto. Invejar é querer tirar o couro, rogar praga, fazer tudo para que a pessoa perca a parada. É possível admirar quem não está ao teu lado. Mas se por acaso o foco da admiração estiver ao alcance da mão, cuidado. Ela pode se manifestar como inveja. Assim, uma coisa torna-se o oposto da outra. E não existe a chamada inveja boa: existe a admiração, que é do Bem, e a inveja, que é do Mal.


O grande incentivo para a inveja é a precariedade humana. Ou seja, a pessoa invejada não pode reclamar, pois assim estaria reconhecendo sua superioridade. Isso é condenável, sob todos os aspectos. Ninguém é superior, então não tens motivos para se destacar, por que estás reclamando? O que o invejoso quer é teu lugar, ser o que não consegue jamais ser. Mas não fale dessas coisas. Vão achar que mereces mesmo esse tratamento asqueroso, que destrói vidas e carreiras. A saída encontrada é a pessoa invejada recuar até o limite da insânia. Transformar-se numa ameba para não ser mais invejado e assim poder viver em paz.


O triunfo da maldade impregna todos os momentos da vida atual. O Bem recua, cheio de autocríticas, enquanto os medíocres se locupletam na sua faina de destruição. O problema é que o talento jamais deixas de se manifestar. Mesmo no ermo, perdido por aí, longe de tudo e de todos, haverá alguém que vai se aproximar para deixar sua marca de fogo no teu lombo. Só resta então rezar. E dizer, aos gritos, que jamais vencerão, pois Deus distribui as graças à sua maneira para nos testar. Conviva com quem é superior (e quem é superior exerce a ética, que é a verdadeira superioridade de todos os iguais). Assim as graças virão todas para ti, inclusive o talento que nem pensavas ter.


RETORNO - Imagem de hoje: Avemaria, de Fulvio Pennachi. Concedei-nos as graças, Santa Maria, e proteção.

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