27 de setembro de 2007

A DITADURA EM PLENA FORMA


Quando falo em ditadura, acham que uso uma metáfora. Chegaram a me dizer que existe sim uma ditadura financeira, mas não política. Que temos liberdade e por aí afora. Contra-argumento o seguinte: se há uma ditadura financeira, estamos então em pleno regime de exceção. A política oficial é apenas instrumento desse sistema e se fundamenta na lógica da tirania para dar as cartas, em qualquer lado do balcão. Por exemplo: medida provisória. É um instrumento criado no auge da ditadura. É contestada? Não. Só aparece quando o Senado derruba a medida provisória que criou 660 cargos numa secretaria especial para o Mangabeira Unger.

O episódio é revelador. Mangabeira Unger abandonou sua cátedra em Harvard para assumir o cargo no governo Lula, contrariando assim toda sua biografia. Assumiu com pompa e circunstância, proferindo suas falas explicativas com aquele sotaque esmerado de gringo, que para mim, a exemplo de Harry Sobel, é treinado diante do espelho. E foi jogado no lixo pela ratatuia da política, essa súcia que domina verbas e cargos. Era ver ontem no noticiário da televisão a cara de deboche dos responsáveis pela travessura. Dizem os jornalistas bem informados que tudo foi obra do Renan Calheiros, que assim mandou um recado para o governo de que está vivo e que é preciso completar o serviço, ou seja, não basta poupá-lo da cassação, é preciso mantê-lo no cargo.

Aloísio Mercadante, tão majestoso e auto-suficiente, é o bobalhão eterno. Certamente apoiou a sessão secreta para não expulsar Renan, com a promessa de que ele deixaria de ser presidente da Casa. Pois foi traído, a ver pela cara contrariada que exibe diante das câmaras. Caiu em desgraça desde o segundo turno das eleições presidenciais que elegeu Lula. Não haveria segundo turno, mas aí Mercadante se meteu numa embrulhada. Continua sendo punido. É um fantasma político.

Lembro quando ele, com seu peito de pomba (põe o peito para frente, a sugerir grandeza) , contava às gargalhadas no aeroporto aqui de Florianópolis como ele e sua gang tinham abordado o Brizola derrotado em 1989. Pediram-lhe apoio, prepotentes. Brizola, claro, estava uma fera, e isso era motivo de alto deboche coletivo. Vi tudo e não entendia a cena, pois desconhecia o bigodinho que manobrava a conversa. Depois soube que era o Mercadante, tão cheio de si e agora enterrado pelos parceiros que escolheu para ajudar a enterrar o trabalhismo.

Mercadante e Mangabeira são alfabetizado brutalizados pela política dos grotões. Fizeram o jogo e agora roem o osso, enquanto os coronelões do PMDB et alli se locupletam. Estão apenas batalhando por cargos na Petrobrás. E essa história de privatizar a selva? Deram concessões de 40 anos para grandes empresas explorar “de maneira sustentável” a mata que Dom Pedro II preservou para nós. Vai restar o deserto, claro. Aí vão querer dar o alarme. Tarde piaste.

Enquanto falam da vida que melhora, dos milhões que saem da pobreza e não sei quantas mentiras mais, o crime cresce no país inteiro. Os assassinatos se multiplicam, com cada vez mais crueldade. É a ditadura em plena forma. O país está à mercê da bandidagem, que gargalha em todos os nichos da República.

RETORNO - Imagem de hoje: Futebol enlatado, por Helcio Toth. O tapume colorido tenta esconder, mas revela, o país abandonado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário