22 de dezembro de 2007

LANÇAMENTO NA ILHA


Literatura

Aventuras escritas em dupla


Escritores apresentam seu livro para o público adolescente de Florianópolis (Matéria publicada neste sábado, na capa do caderno Variedades, do Diário Catarinense, de autoria de Karine Ruy)

KARINE RUY

Um reencontro casual ocorrido há três anos na feira do livro de Uruguaiana (RS) foi o primeiro passo para uma parceria inédita entre os escritores Nei Duclós e Tabajara Ruas. O resultado é o romance juvenil Meu vizinho tem um Rotweiller (e jura que ele é manso), que será lançado e debatido hoje na Barca dos Livros, em Florianópolis.

O livro abre a trilogia Diogo e Diana, editado pela Galera Record. O lançamento aconteceu no mês de novembro na Feira do Livro de Porto Alegre, mas só agora será oficialmente apresentado ao público de Santa Catarina, cenário do romance.

A obra de quase 300 páginas é protagonizada pelos jovens que dão título à série. Diana tem 13 anos, é uma adolescente segura e impetuosa. Diogo, ao contrário, é tímido e inseguro. Ao menos até conhecer Diana, que se muda para Florianópolis com as irmãs. Juntos, os novos amigos descobrirão que, apesar das diferenças, compartilham um valioso segredo: os dois têm poderes especiais.

A trama do primeiro livro da trilogia gira em torno do seqüestro de um bebê por uma congregação de bruxas, contra qual Diana, Diogo e outros personagens irão lutar.

Meu vizinho tem um Rotweiller (e jura que ele é manso) é o primeiro livro do gênero dos escritores gaúchos, amigos e conterrâneos de Uruguaiana que hoje adotam Florianópolis como endereço.

- Eu queria escrever uma história mais livre, em que a imaginação fosse mais solta, e o melhor terreno para isso é a juventude - diz o cineasta e escritor Tabajara Ruas.

Também estreante em romance infanto-juvenil, Nei Duclós ressalta a criatividade do enredo.

- É uma luta contra o mal, mas não de um bem babaca, e sim de um bem misturado, com seus conflitos, suas dúvidas. Eles lutam para resolver conflitos espirituais - diz Duclós.

Exemplares do livro foram distribuídos entre estudantes de Florianópolis, que debaterão a obra com os autores a partir das 16h de hoje na Barca dos Livros, na Lagoa da Conceição (confira no box).

- Eu quero saber o que eles acharam. Vai ser o nosso primeiro contato com o público alvo. Estou curiosíssimo - acrescenta o autor.

Nei Duclós e Tabajara Ruas já estão na metade do próximo livro de Diogo e Dina, cuja finalização está prevista para o final do verão.

Meu vizinho tem um Rotweiller (e jura que ele é manso), de Nei Duclós e Tabajara Ruas. Editora Galera Record, 272 pags., R$ 38.

Trecho

Conceição II atravessou toda a lagoa, passou pelas curvas do canal, transpôs cavalgando como um potro as ondas da rebentação e seguiu mar adentro, saudada por um concerto infernal de gaivotas famintas. A ilha de Santa Catarina foi ficando para trás.
Diogo sentiu o vento salgado no rosto. Durante as aulas da manhã, diversas vezes foi tentado a convidar Jacaré para acompanhá-lo na empreitada. Mas sabia que não poderia fazê-lo. Aquele era um assunto pessoal e tinha de resolvê-lo sozinho. Seria injusto Jacaré, pois não poderia dizer-lhe tudo que sabia. Agora sentia falta do amigo, de sua força, do seu otimismo, da sua alegria.
As gaivotas foram diminuindo seu alarido, o céu estava completamente azul, o sol começou a queimar sua cabeça e um casal de botos passou deslizando serenamente em direção a águas mais quentes, às correntes do Golfo, ao distante Caribe.
As três ilhas que serviam de baliza apareceram ao longe. Diogo tratou de colocar a baleeira na posição exata recomendada por Modesto, desligou o motor e jogou a âncora.
Agora, precisava de toda sua coragem.
Tirou a camiseta do time do Canto dos Araçás e as bermudas, consultou o relógio, duas horas em ponto, encheu os pulmões de ar, mas não mergulhou.
Agarrou-se com as duas mãos na borda da baleeira e olhou fixamente para a água esmeralda e transparente. Pouco a pouco, começou a ver: peixes pequenos e grandes, movimentos sutis de longas algas multicores, cardumes deslocando-se em súbitos reflexos e, quando a vista se acostumou, viu a grande sombra do recife.
Seu coração se apertou.
Agarrou-se com mais intensidade à madeira do barco, concentrou-se tenazmente num ponto mais escuro do recife e sentiu que começava a sair suavemente de dentro de si mesmo, que deslizava silencioso e sem atrito para fora de si, seus olhos viram a si mesmo mergulhar com graça na água e viram aquele corpo projetado de si mesmo começar a se tornar material, consistente, viu-o como se fosse uma criatura marítima a se aproximar do recife, observou com surpresa que o clone que projetara parecia mais atlético e musculoso do que ele era realmente e não pensou mais nisso porque ele já chegava ao buraco que tinha aberto com o martelo de Modesto.
E enfiou-se por ele.

Serviço

- Quando: hoje, dia 22 de dezembro de 2007
- Onde: Biblioteca Barca dos Livros (Rua Senador Ivo DAquino, nº 103 , Lagoa da Conceição, Florianópolis)
- Horário: 16h
- Ingressos: entrada gratuita

RETORNO - Imagem de hoje: Taba e eu, foto de Adriana Franciosi.

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