4 de janeiro de 2008

IMPOSTO E GELADEIRA NAS COSTAS


A verdadeira atividade das mega-redes de lojas de varejo é a especulação financeira. Eles vendem juros. O produto – fogão, geladeira, TV - é secundário. A massa de consumidores empobrecidos, que só podem pagar uma merreca de prestação, se submete e fica a vida sustentando a ciranda financeira, agenciada pelos lojões e outros agentes. Tão secundário é o produto que os especuladores se livram dele logo depois do Natal. Os artigos só servem para fisgar os pobretões na armadilha do endividamento. Quando existe um bom número de trouxas no redil, basta jogar na rua o que sobrou. E lá vai o povo carregando geladeira e TV de mil polegadas nas costas.

Faz sentido o pacote de arrocho financeiro decretado pelo governo federal para vingar-se da tunda que levou com o caso da CPMF. Se existe uma palavra que define o atual governo é o ressentimento. Antigamente se chamava recalque. Um governo capitaneado por um recalcado onera ainda mais os cidadãos sob o álibi maroto de que está penalizando a ciranda financeira. Ora, os bancos não sofrerão com nada disso, ao contrário. Quem vai pagar a conta dos impostos mais altos nas operações financeiras são os contribuintes. Vai usar cartão de crédito? Será tungado. Vai vender ou comprar casa própria? Tunga.

Como são medidas lideradas por um recalcado, o pretexto é que se está penalizando os ‘ricos”, isto é, a cidadania que consegue ainda sobreviver. Ao mesmo tempo, mantêm as merrecas-esmolas ditas sociais, pois isso é o populismo que eles tanto condenavam. Feito o serviço, o presidente com a esposa italiana se retira para a Restinga de Marambaia, lugar de 42 praias e de propriedade do povo brasileiro, gerido pela Marinha do Brasil. É seguro, argumenta ele, é um paraíso. Temos de nos preparar para as fotos de pança e sunga e gargalhadas íntimas depois da vingança.

Ou seja, a democracia é uma piada. Não importa eliminar um imposto ilegal como a CPMF, eles dão um jeito de repor as coisas no lugar. Os bancos te raspam os trocos. Deixa qualquer coisa na conta, eles inventam mil despesas e te levam tudo. Nunca lucraram tanto, pudera. Possuem um governo que trabalha junto com eles, faz parte do esquema do arrocho financeiro. Reforma tributária? Quá quá quá. Reforma tributária é esse pacote que eles jogaram nas costas da nação antes de irem refrescar os glúteos.

Leio Sergio Buarque de Holanda sobre o Segundo Reinado e está tudo lá:o rodízio das falsas oposições tendo acesso cíclico aos butins; o financiamento dos votantes, ou seja, a invenção de um eleitorado fictício por meio do dinheiro público (o que acaba gerando uma nova aristocracia); as finanças cacifando a corrupção; entre outros babados. Sérgio Buarque de Holanda expõe as vísceras de um sistema viciado sem jogar pedras, apenas trabalhando a linguagem dos documentos e erigindo esse monumento que é seu grande texto geral sobre a História do Brasil.

O Brasil ainda existe porque gênios como SBH existiram. E suas obras são os pilares de um país que voltará a ser soberano. Basta que erradiquemos de vez essa canalha que empalmou o poder a partir de 1964 e de 1985. Uma canalha que te limpa os bolsos e te coloca uma geladeira nas costas para economizar o custo da entrega.

RETORNO - Imagem de hoje: Em busca de emprego, foto de Regina Agrella.

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