27 de fevereiro de 2008

ANOS DOURADOS: CAIU A FICHA


Escrevi o seguinte há dois anos, a 12 de fevereiro de 2006: “JK é um fenômeno. Foi só assumir a presidência para haver um baby boom de gênios. Como se sabe, todos os que brilharam durante seu governo nasceram no dia da sua posse. Assim, como apenas três anos Pelé foi campeão do mundo, João Gilberto e Tom Jobim lançaram a bossa nova, engatinhando o Nelson Pereira dos Santos lançou as bases do Cinema Novo e a arquitetura moderna brasileira, que jamais começou com o prédio do Ministério do MEC da era Vargas, mas em Brasilia, foi uma explosão precoce que até hoje assombra o mundo. Todos esses incríveis eventos foram obra de JK e não, como se sabe, de Vargas, que preparou a cama para quem o sucedeu.”

Hoje, 27 de fevereiro de 2008, Ruy Castro escreve na Folha o seguinte (seleciono trechos): “Quantas vezes você já não leu isto? No tempo de JK (1956-1960), o Brasil viveu os anos dourados. Bem, vejamos. João Gilberto gravou Chega de Saudade em 1958. Mas aquilo era a culminância de um processo iniciado dez anos antes, no governo menos bossa nova e mais borocochô do milênio: o do marechal Dutra. O mesmo quanto ao concretismo -Décio Pignatari, os irmãos Campos e o suíço Eugen Gomringer já faziam poesia visual desde 1952, quando o presidente era Getúlio. E Grande Sertão: Veredas foi realmente lançado em 1956, pouco depois da posse de JK. Mas Guimarães Rosa escreveu-o durante Getúlio, dando-lhe os retoques e pingando o ponto final sob o opaco governo Café Filho. E o cinema novo? Não existia sob JK. Rio 40 Graus é de 1955, sob Carlos Luz e Nereu Ramos, que sucederam Café brevemente. A própria expressão "cinema novo" só seria inventada pelo crítico Ely Azeredo em 1961, com Jânio presidente. Deus e o Diabo na Terra do Sol foi rodado em 1963, sob Jango, e lançado já na ditadura militar.”

Mesmo reconhecendo Getúlio, Ruy Castro não quis dizer: foi tudo obra da era Vargas. Como se o Dutra não tivesse sido indicado candidato por Getúlio. Como se a Era Vargas não tivesse durado até 1964. Mas pelo menos levantou a lebre, há anos levantada aqui. O Diário da Fonte é assim: você lê antes aqui o que será assunto daqui a um bom tempo. Mas isso não tem valor. O que vale é aparecer nos grandes veículos. Pois acho que o DF é, a seu jeito, grande.

TRISTE LINGUAGEM

Deputado foi contra, então ele é uma das “viúvas” da CPMF. Dois marmanjos não se entendem, é claro que entre os dois pintou a maior “saia justa”. Quando um tubarão de certo partido se entende com o tubarão de outro, o que houve foi “casamento”. Enfim a CPI foi aprovada, aconteceu, portanto, um “parto”. E continuam os “não é para menos (hoje ouvi um, no noticiário matinal), só para ter uma idéia, não pensou duas vezes, afinal, é isso mesmo” e por aí vai. E dê-lhe link no shopping. Agora é a Páscoa que se aproxima. E quando entrevistam o dono de uma feira? Nossa palavra é mercado, diz ele. Que coisa triste. Mercado ser a “nossa palavra” é tristeza demais. É a infinita tristeza cultural do Brasil.

O mercado é quem determina quando certas inverdades históricas devem ser corrigidas. Um eminente colunista econômico começou assim sua catilinária contra o Banco Central: "É blefe!" Ele tentava acusar o presidente do BC de algo que era apenas jogo de cena. No parágrafo seguinte, repetia a mesma coisa dita pela autoridade, só que com outras palavras. Ou seja, seu "é blefe!" era blefe. Sugeria independência de opinião. Enquanto acharem normal a ditadura econômica, são todos culpados. É blefe! Mas isso só será denunciado daqui a alguns anos. "Era blefe nosso é blefe", dirão.

RETORNO - Imagem de hoje: o pai da matéria com o aproveitador sorridente. Um fez, outro levou a fama.

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