16 de junho de 2008

SELEÇÃO BRASILEIRA E IMPRENSA


Dunga perdeu a invencibilidade nas eliminatórias e o Brasil está numa sinuca de bico. O time praticamente não existe, mas tem sido assim há mais de 15 anos. Acho que 1982 foi a última seleção brasileira da fase heróica, representativa do que se jogava no Brasil. Estava ainda no início a maciça internacionalização, como era o caso de Falcão, rei de Roma (o “rei” vinha de Pelé, mas num reino mais estrito).

Vai ficar cada vez pior, pois estamos exportando promessas de craques, com menos de 16 anos, ou seja, estamos raspando o tacho de mais um rico veio de recursos. Assim mesmo, ganhamos a copa de 94 e todo mundo falava mal de Parreira. Também ganhamos a de 2002 e todo mundo execrava Felipão. Lembro de comentaristas olhando sampacu para a câmara enquanto vociferam “In-gla-terra!” (os ingleses levaram um toco). Ganhamos a Copa América com Dunga, acusado de ser um anão espetado.

Voltam os arroubos e os suspiros diante dos estrangeiros. Na tarde de domingo, vimos Galvão Bueno tirar rapidinho o time de campo quando a seleção começou a fazer água. Se a equipe mantivesse a escrita, derrubando os paraguaios, lá estaria Bueno na maré alta da vitória, como sempre faz, alardeando nossa superioridade, que nada mais é do que a velha patriotada servindo de embalagem para faturamentos diversos. Bastou os canarinhos se mostrarem descosturados, sem chutar a gol, na defensiva, para a síndrome de Zizou Zidane voltar com tudo. É incrível a capacidade que a cobertura brasileira esportiva tem de fazer declarações de amor aos adversários. Ayala, Tchibêbe, Cienfuegos: que craques! Armendariz, Pitchoco, Menendez: ay ay ay!

Como todo mundo, tenho perguntas a fazer para Dunga, como o fato de ter colocado Adriano só depois de termos levado o segundo gol. Mas isso não me libera para execrar técnico e seleção como se fossem leprosos. O medo diante da Argentina, que enfrentaremos nesta quarta-feira, e que é fruto de temores ancestrais, se transforma em admiração pelos portenhos, como sempre, apesar de terem levado de nós tocos sobre tocos, perdendo copas Américas e se classificando abaixo nas eliminatórias. A retenção diante dos argentinos sempre volta, como o inverno.

Cansei desse jogo de empurra, dessa má vontade diante da seleção. Lembro como malhavam o Telê Santana, como caíram em cima dele depois de 1982 (arte, arte, que escândalo!) e de 1986. Do Telê! Quando Vanderley Luxemburgo começou a ratear um pouco, o derrubaram. Ninguém presta, ninguém dá conta. Como se o futebol fosse propriedade da imprensa, que cobra como se estivesse numa relação patrão escravo. Ora, catem-se. Seleção somos nós lá, e se somos nós, precisamos ser solidários. Erraram, vamos criticar, mas não destruí-los. Quantas vezes a imprensa se desmoralizou diante dos resultados, que calaram a boca de todo mundo?

Faltou inteligência, confiança, força, tática, estratégia e até mesmo alguns craques na seleção de Dunga no domingo contra o Paraguai. Mas o que não pode faltar é vergonha da imprensa, que cai de pau matando como se fôssemos os eternos beneficiários do suor dos atletas e jamais os conterrâneos na hora das derrotas. Basta perder para todo mundo virar venezuelano. Tchávez, Tchávez, veni acá, pibe de oro! Estamos numa fase ruim, mas podemos melhorar. A seleção teve momentos bons e vi que se desenhou várias vezes o time que deveríamos ter. Ainda acho que a seleção deveria refletir o futebol que se joga no país e não esse conjunto de jogadores trazidos de times estrangeiros. Mas já que temos o que aí está, vamos fazer uma abordagem mais equilibrada.

Execro Lucio, não sei quem é Josué, acho Anderson fraco, apesar de ter dado dois bons tironaços a gol, acho que Robinho sumiu no jogo, não temos batedores de falta etc. Mas temos condições de reverter esse quadro. Argentinos? Correria com precisão de relógio cuco. Basta firmar um pouco que se desmancham. E depois choram. Pode ser que ganhem. Mas isso jamais deve ser motivo para zidanear a esmo. Zizou, Zizou, vai tomar...

RETORNO - Imagem de hoje: Batalha do Riachuelo, do tempo em que a gente ganhava do Paraguai.

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