16 de novembro de 2008

O DIRETOR QUE TEM MEDO DA SOMBRA


O americano, nascido na Índia, M. Night Shyamalan, morre de medo da natureza. No seu mais recente filme, Fim dos Tempos (The Happening) o vento, as árvores, a grama espalham um vírus que elimina o sentimento de auto-preservação da espécie e todo mundo começa a se suicidar. Em A Vila (The Village), os habitantes retrô de um lugarejo oitocentista em pleno século 21 se cagam de medo do que eles próprios inventaram, monstros. Onde ? Claro, na floresta, lugar extremo da natureza. Em A Dama Na Água, tudo o que é natural assusta: a ninfa, a grama, o lobo Mau que a persegue, a chuva, a sombra.

Em todos os seus filmes existe esse medo atávico de regredir para suas origens, o povo e a nação de onde veio. Mais realista que o rei, ele é o fruto da paranóia americana em seu esplendor. Pois se um americano nativo sente medo, não sofre essa obsessão paranóica de Mr. Night, já que um americano sabe que pertence ao seu lugar, por direito, o que não acontece com Mr. Night, de pele escura, nascido num país longínquo.

Ele ficou milionário com O Sexto Sentido, que é o pavor de ser considerado um excluído, alguém que morreu e não sabe. Por se cagar de medo, Night cada vez mais regride. Da história de fantasmas ele partiu para o spielbergiano Sinais, que é uma conspiração da natureza contra a civilização, os plantadores de milho. Do conto infantil sobre a ninfa, ele mergulhou no medão de sofrer um golpe de ar, de respirar esporos e morrer de rinite alérgica.

Shyamalan acha que faz filmes que o amedrontam, quando no fundo faz filmes que tentam retratar seu pavor diante de tudo o que é natural. Agarrou-se à Filadélfia, onde foi criado, centro da civilização a qual pertence, a americana. Lá ele vive seu pesadelo artístico, sendo considerado gênio por alguns, quando não passa de uma exacerbação da cultura do império, que sonha com super-heróis e teme ter o corpo fragilizado pela ameaça de fraturas em todos os ossos, como acontece com Corpo Fechado. Ele procura desesperadamente uma saída para sua obsessão, o medo de ficar à mercê das intempéries, sem teto, sem país que o abrigue.

Shyamalan é o migrante que encontrou um lar no país rico distante e faz qualquer coisa para continuar nele. Disfarça esse objetivo carregando uma espiritualidade ungida pelos lugares comuns do deserto a qual pertence, ou seja, a auto-ajuda via cultura indiana. A Índia tem pavor sagrado da natureza, basta ver o que fazem bois e vacas em suas ruas. Multidões se atiram num rio de poluição crescente para se purificar. A sabedoria indiana cai como uma luva no Império sem alma. Serve como parâmetro de sentimentos profundos, desde que a natureza ao redor não tenha chance de ressuscitar.

Night teme que a natureza se manifeste. Ele não está denunciando a agressão aos recursos naturais. Se sente ótimo assim, na riqueza do país que devorou o mundo. Tem medo que haja insubordinação. Que o mar, que fica bem longe da Filadélfia, despeje criaturas na piscina da sua casa; que suas commodities bem plantadas sofram o ataque de alienígenas; que as pessoas mortas venham lhe assombrar. Shyamalan tem medo da próprio sombra. Se considera um Stuart Little, filme no qual fez o roteiro, um ser minúsculo, louco para ser adotado pela América.

Sabe filmar, mas força muito a barra. Em O Sexto Sentido acertou por ter optado por um suspense policial, uma investigação noir. Depois degringolou em inúmeros delírios. É um menino leitor de gibi, amante do ET, de Spielberg e talvez, nos seus filmes de paranóia total, não tenha denunciado a vida sob Bush, como quer a crítica. Mas simplesmente tenha apontado o quanto o terrorismo de estado tinha razão.

RETORNO - Imagem deste post: Ashlyn Sanchez, Mark Wahlberg e Zooey Deschanel fogem do vento em "The Happening" (Fim dos tempos).

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