15 de março de 2009

O PRÍNCIPE DO CARIMBÓ

O Sr. Charles, reconhecido como príncipe da monarquia inglesa, usando seu chapéu branco de explorador da África, deixou a consorte Camila Bowles, não-sei-o-quê da Cornualha (que ficou aturando a bateção de lata de crianças amazônicas numa sala fechada) e aproveitou para dançar o carimbó com uma brasileira de saiote e soutien. No encontro dos presidentes americano e brasileiro, Obama disse que tinha vontade de visitar a Amazônia, lugar onde seus adversários gostariam que fosse se alojar, segundo uma das inúmeras piadas que contou ao lado de Lula diante da imprensa.

Numa conferência muito conceituada, o eminente economista Paul Singer, uma das raras inteligências do Brasil, disse que o País esteve na vanguarda em 1932 (não citou Vargas), pois interviu na economia para acabar com o ciclo perverso da recessão. Hoje, disse Singer, o Brasil está de novo na vanguarda graças ao PAC. Ou seja, é como disse uma vez Borges sobre os escritores: costumamos inventar nossos precursores. Quer dizer que Vargas (que não foi citado) serviu apenas de escada para Singer elogiar o atual governo entreguista?

O Sr. Charles (que nasceu exatamente no mesmo dia em que nasci, mas não para ser rei) quer reunir bilhões de dólares para preservar a mata. Existem algumas coisas que os gringos precisam aprender. Primeiro, se existe devastação da mata é porque a mata ainda existe. E ela existe porque tivemos estadistas, como Dom Pedro II e Vargas, que mantiveram a soberania da região. Segundo, que o Brasil não faz parte do planeta. O que faz parte do planeta é o alto mar e os pólos. O Brasil é uma construção humana, histórica, econômica, reconhecida internacionalmente. Então, se os estrangeiros quiserem preservar alguma coisa, sugiro que preservem as próprias vovós deles.Terceiro, quem são os ingleses ou os americanos para vir preservar a mata, depois que eles destruíram tudo e sugaram as riquezas do mundo inteiro?

Estou sendo anacrônico, claro. Os ingleses de ontem não são os mesmos de hoje. Temos agora ecologistas na coroa. Temos politicamente corretos na presidência das potências. Então, os errados continuam sendo nós. Antes, porque éramos muito fracos e nos deixamos sugar como bananas maduras. Hoje, porque somos bananas maduras e não conseguimos nem gerar políticas públicas que impeçam a devastação que continua sendo promovida pelos países estrangeiros, com o apoio da canalha interna.

A não-sei-o-quê-da Cornualha veio como uma sombrinha que o Macaco Simão disse que era de dançar frevo. O casal fez um safári. O Brasil é a Índia, a África ou o planeta. A idéia, o conceito de Brasil não entra na cabeça dessa troupe. Ele acham que moramos em árvores e nos comunicamos batendo com os punhos fechados no peito. E que vivemos exoticamente nas favelas cheirando, matando e mostrando o buzanfan para os turistas. E que o pouco que temos de bom se deve à imigração estrangeira. Todos esses preconceitos que não enxergam populações de cidadãos vivendo, criando, produzindo no Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, nas periferias, nos campos e vilas.

No dia em que eu assumir o trono, vou mostrar aos gringos como a coisa funciona. Vou criar uma ONG para preservar o Grand Canyon . Vou investir bilhões nos besouros cascudos que estão em via de extinção no Central Park. Vou exportar, de graça, todas as tartarugas que conseguimos multiplicar em anos de projetos milionários. Vou colocar um capoeirista em cada cidade estrangeira para poder, sob o pretexto de ensinar a luta, dar uns pontapés nas fuças da gringaiada. E vou mandar colocar um saiote em cada cornualhense para que a bagacerada brasileira dance um carimbó com elas. Será que Charles vai chegar legal? Talvez ache, isso é que é o pior.

RETORNO - Imagem de hoje: saia, ele só usa lá. Aqui ele usa calça comprida para dançar com as nativas.

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