6 de abril de 2009

NO MAR, VEREMOS: A CANÇÃO


Este é o video (que já está no you tube) feito por Ida e Juliana Duclós sobre meu poema No Mar , Veremos, musicado e interpretado pelo talento e a voz poderosa de José Gomes, o maior compositor do Brasil, o multiinstrumentista que pesquisa sons de raiz e de lá tira um movimento permanente de vanguarda musical. Atentem para a viola pesquisada e adaptada de José Gomes no acompanhamento desta canção que já nasce épica, para ser cantada pela multidão em praça pública. É o que sonhamos. E sonhamos para mudar o mundo. Veja, ouça, diga lá:

http://www.youtube.com/watch?v=HMsZhzPEbe8

Lembro que fiquei anos escrevendo o poema. Inventei, na poesia, a lenda do barco que não se entregava, que não se dobrava diante das tormentas, pois sempre voltava e ficava firme na beira. Era uma história da infância transformada pela poesia. Em três ou quatro meses de 1986, quando trabalhava na Lapa de Baixo, em São Paulo, na revista Senhor, eu rescrevi o poema todos os dias. Era um poema diferente a cada 24 horas. Deu o maior trabalhão. Mas ele está aí, 15 anos depois, firme e forte. Agora, vestido de gala, com o trabalho maravilhoso de José Gomes.

Conheci José Gomes depois que li uma entrevista sua dizendo que não havia mais bons poetas no Rio Grande do Sul. Escrevi para ele reclamando e mandei alguma coisa. Ele me recebeu em sua casa e escolheu então No Mar, Veremos e Minuano, para musicar. As duas canções existem desde 2004. Minuano também será transformado em video proximamente.

Agora, siga o poema No Mar, Veremos, que está inteiro no video e foi publicado no livro do mesmo nome em 2001 pela Editora Globo, que tinha então no comando editorial Wagner Carelli.

NO MAR, VEREMOS

Nei Duclós

Pescador de rio pequeno
coloca tudo nos eixos:
seu aço guardado em sótão
sua lança quebrada ao meio

Sabe o rumo da tormenta
o passo da palometa
o avesso de toda malha
o limo sob o sereno

Pescador de rio moreno
charrua de preta escama
seu barco já está a prumo
aguarda a voz do minuano

E se vier o mar
com séquito de sereias
a espuma em seu território
a carne suja de areia?

E se vier o mar
usando arpões de baleia
sargaços ardendo em febre
gáveas altas como estrelas?

Pescador tem a resposta
dobrada em lenço vermelho
que aviva os sonhos do sótão
de aço posto nos eixos

Pois o mar é uma lenda
cultivada pelo vento
a porta de um outro mundo
maré de água estrangeira

é uma espécie de terror
com batalhão de tridentes
generais do imperador
roubo de comerciantes

O mar, para um pescador
criado em água corrente
nos arames dos arroios
entre os moirões das fazendas

é uma dança pelo avesso
a trilha do formigueiro
metralha sob a vanguarda
canhão contra baioneta

Pois se vier o mar, veremos
o barco a remo do pampa
puxando um cordão guerreiro

para atiçar a batalha
para tingir os valentes
para costurar a mortalha
do sal que resseca a rede

que suga o sangue farrapo
com sua manha de peixe

Pescador vem do levante
e um milhão atrás dele

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