22 de setembro de 2009

OMBUDSMAN, FUNÇÃO OBSOLETA


Enquanto a embaixada brasileira em Honduras era cercada, o jornal Hoje da Globo se concentrava num tema candente, o mau hálito. Para isso eles mantém bonequinhos em frente às câmaras: para falar de mimos enquanto o mundo despenca. Na internet, a cobertura é on line, candente, pungente, completa, explosiva. Mas isso nem chega aos píncaros da obsolescência em forma de veículo.

E nem adianta mais ter ombudsman (a Gobo nunca teve), ou ouvidor, que é o profissional intermediário entre a pressão dos cidadãos, leitores, contribuintes, consumidores e a corporação. É um cargo criado numa situação em que os canais de opinião eram restritos. Hoje, com a internet, onde sobra crítica por todo lado, é uma função obsoleta. Mas eles não se dão por vencidos. A Folha e a Globo proibiram seus jornalistas e funcionários de ter blog e cortaram também o acesso ao twitter.

Ou seja, ensaiam a censura geral que está por vir (a situação de liberdade que usufruímos hoje na rede será conhecida no futuro como a Idade de Ouro da Internet, assim como tivemos a Era de Ouro do Cinema e do Rádio). Assim, procuram manter intactas as estruturas a que estão acostumados. A Folha coloca no ar sua versão digital. O que é a versão digital da Folha? É o jornal impresso copiado na internet. Não é um jornal adaptado às novas tecnologias, apenas as usa para manter a mesma estrutura. A Folha On Line é apenas uma pálida versão do jornal impresso. Deveria ser o próprio jornal.

Numa entrevista, o atual ombudsman da Folha diz que a direção não acata a maioria das suas sugestões. Também não dá a mínima bola para a pressão dos leitores, que querem José Sarney fora da equipe de articulistas. Não que eu defenda a saída de Sarney da Folha, pois basta defender alguma coisa para acontecer exatamente o contrário. O Sarney sairá do seu espaço quando morrer ou quando bem entender. Tudo é vitalício no exercício do poder no Brasil. Não há ombudsman que agüente.

Fico imaginando (já que não tenho mais contato) um jornalista desses grandes (por enquanto) veículos tendo que se podar, vendo o resto da humanidade se divertindo, exercendo o que ele não dispõe, liberdade. Naturalmente, como é costume, brota nas redações a idéia de que esses instrumentos internéticos são pura perda de tempo. É a maneira de se compensar. O bom é que a existam os grandes sites e provedores e sumam para sempre os guerrilheiros culturais, marginais e insurgentes.

Já me referi a esse assunto aqui, mas vou repetir, porque acho importante. Esses tempos um notório jornalista “cultural” disse que o sucesso do twitter entre nós é porque “o brasileiro” é novidadeiro (“o brasileiro” é algo que existe fora dele, que deve ser marciano, já que não é americano, europeu ou de qualquer país da Ásia ou Oceania). O sujeito não sabe que o twitter é um conjunto de ferramentas para a difusão rápida de informações de todo tipo e calibre, selecionadas e impulsionadas por protagonistas de todos os tipos. É uma soma de links para as mais variadas abordagens de texto e audiovisuais. É uma ferramenta poderosa de comunicação e marketing. O mundo inteiro está ligado, mas aqui os luminares torcem o nariz.

Quando há tanta diversidade de opinião, tantos canais de pressão, tantas maneiras de se fazer críticas, os veículos tradicionais se fecham em copas olhando para o próprio umbigo. Não prestam atenção à avalanche que toma conta do mundo civilizado e se concentram no seu corporativismo, adotando o patrimonialismo que os sustenta (“vejam TUDO no nosso site, não tem para ninguém”). Toda sala com um micro hoje é uma redação. Toda fonte é mídia. E a censura obtusa ensaiada hoje no Brasil pode ser que dure séculos, porque aqui tudo dura eternidades. Pior para nós, alvos permanentes da gargalhada e dos olhares penalizados de tantos cidadãos estrangeiros.

Ah, esqueci das pesquisas. Nossa imagem no Exterior, segundo os ibopes, deve estar tinindo. O mau comportamento em Honduras, disfarçado de macheza revolucionária, que o diga. Vai feder.

RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

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