20 de novembro de 2009

EXCESSO DE ERROS


O excesso de erros na vida nacional pressiona o analista a selecionar os eventos e reuni-los em grupos identificáveis, numa tentativa de encontrar uma linha coerente. Quais são os erros que devem ser destacados e o que significam? Primeiro, provas de concursos, como os do Enem ou do TRE regional de Santa Catarina. O vazamento das perguntas é só um aspecto da questão. A corrupção alia-se à incompetência. Perguntas mal formuladas, copiadas da internet alimentam essa indústria,que movimenta milhões, pois é isso no fundo o que se trata: na seleção lotérica dos candidatos, a despesa de inscrição é ampla e irrestrita, arrecadando uma grana preta para quem organiza ou para a instituição responsável.

A verdade é que o hábito de arrancar dinheiro de quem precisa é escorada no analfabetismo crescente e em rede. Alunos que se burrificam no atual sistema de ensino, que custa os tubos em propaganda oficial, viram professores, que por sua vez repassam o desconhecimento para as novas gerações. Isso tudo deságua em equívocos primários, pois se perderam os parâmetros confiáveis e hoje há um vale-tudo numa área que deveria servir de exemplo. Quando a educação se deixa levar pelo espetáculo televisivo de um Soletrando, do Luciano Huck, é sinal que estamos fritos. O professor surrado pelos alunos violentos é um dos sintomas da grave doença educacional que a ditadura implantou entre nós.

Com a ignorância abissal disseminada por todos os níveis sociais, o governo, fonte e arauto da vocação para o obscurantismo, deita e rola. O ministro da Justiça se assombra com a decisão do Supremo de indicar a expulsão do terrorista italiano e sugere que há algo podre no ar, ou seja, a crescente fascistização do mundo, especialmente na Itália e no governo atual dela. Quer dizer que fazer justiça é fascismo? Quando uma autoridade suprema da Justiça disse antes uma coisa dessas, colocando em dúvida uma decisão judicial soberana? Claro que as aparências foram mantidas, pois, diz o Ministro, estamos num “estado de direito”. Certamente o fato de terceirizar a decisão para o Executivo foi recebido com alegria. Agora, é levar no banho Maria até o caso esfriar e ficar tudo por isso mesmo.

Pode ser feito um paralelo com a classificação da seleção francesa para a Copa do Mundo. É um escândalo a desfaçatez do jogador Henry, da seleção francesa, que ajeitou a bola com a mão como quis (tocou nela duas vezes) e depois disse nas entrevistas que ele não é o árbitro. Ou seja, ele pode matar desde que a Justiça o libere! É preciso avisar que o crime existe no momento em que é cometido, independente da existência ou não do Juiz. Quando todo mundo vê a sacanagem, fica ainda mais feio.

Mas isso parece não importar. A cara-de-pau, a estultície, a superficialidade no poder encobrem o grande massacre a que estamos submetidos, quando tudo tem de ser pago até o osso, e somos todos encarados como unidades arrecadadoras. Providenciamos energia vital para os vampiros, que batem no peito jurando inocência, fazendo advertências e vivendo no bem bom da grana arrecadada à força e que jorra nos seus quintais como cachoeiras generosas.

RETORNO - Imagem desta edição: Mario de Andrade, secretário de Educação e Cultura do governo paulista, e as crianças (foto de B.J.Duarte). No tempo em que governo, no Brasil, tinha Mario de Andrade em seus quadros. Na Era Vargas, obviamente.

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