13 de fevereiro de 2010

PORQUE TARANTINO NÃO PRESTA


Cedi às pressões da locadora e das repercussões da crítica e tirei o Bastardos Inglórios, do Quentin Tarantino. Como é um filme caro, com excelentes atores (como Brad Pitt imitando Orson Welles) e é mais uma obra de um cineasta que foi colocado no lugar vago dos grandes criadores, pode-se ver com mais clareza porque esse sujeito não presta. Não vale dizer: “Mas ninguém presta, somos todos isso ou aquilo ou de perto ninguém é normal”. Não se trata disso. Não presta por vários motivos, explícitos neste lançamento badalado em Cannes e que não passa de uma reverendíssima porcaria. Vamos a esses motivos

DRAMATURGIA AUTISTA E INCONSISTENTE – Todo trabalho de Tarantino pode se resumir numa cena de tortura entre um algoz e uma vítima, num diálogo interminável entre o assassino e o pandorga que acaba se enredando (quando estão Dennis Hopper e Cristopher Walken em cena, num filme em que ele é só um dos roteiristas, funciona, mas o excesso de uso acaba melando tudo). É uma situação recorrente, voltada para si mesmo, andando em círculos para chegar a lugar nenhum. O desfecho óbvio é o tiroteio deslavado na família escondida no porão, o estrangulamento da atriz traidora, a mortandade no bar, o escalpelamento depois do interrogatório etc. O filme é só isso o tempo todo. A trama não evolui, não encontra uma saída, pois está desenhada desde o início para o final de sempre. Para manter a escrita, o filme acaba num grande incêndio e numa sanguinolência explosiva.

ENFOQUE APELATIVO - Criar uma vingança militar dos judeus na Segunda Guerra, além de uma mentira histórica, é uma forma de apoiar a atual política repressiva no Oriente Médio. O filme assim garante o financiamento das fontes que sempre acobertam esse tipo de coisa. Justifica o massacre invocando uma vingança anacrônica. É proibido falar disso pois corre-se o risco de ser enquadrado como anti-semita. Mas um espírito livre não teme enquadramentos e diz o que deve dizer. A violência assim deixa de ser gratuita nos filmes de Tarantino: trata-se de uma violência aparelhada, a favor dos poderes que hoje tocam fogo no mundo.

MENTIRAS SOBRE CINEMA - Todo filme é sobre cinema e este de Tarantino não foge à regra. Só que com ele o buraco é mais embaixo. Bastardos Inglórios debocha do cinema alemão. Omite Fritz Lang ou Murnau para entronizar a cineasta nazista Leni Riefenstahl. Assim fica fácil: é brincadeira colocar as porcarias cinematográficas sob o signo de Hitler como representativas do esforço alemão de se tornar tão importante quando o cinema americano. O cinema europeu, de autor, dá um banho no cinema show de Hollywood, mas Tarantino mostra de que lado está. Por isso todas as citações, tão celebradas pela crítica deslumbrada, não passa de artificialismo bocó de um mentiroso profissional.

FARSA PERVERSA - Quiseram enquadrar a porcaria como se fosse filme de humor, como se o gênio Tarantino estivesse tirando um sarro de quem o leva a sério. O sujeito não faz comédia, não tem estatura para isso. Ele cai na farsa perversa, relativizando todo o horror da II Guerra, pois os nazistas mais ferrenhos são, no fundo, contra Hitler, e os judeus que foram massacrados surgem como mocinhos do faroeste. Que isso não seja denunciado quando o filme aponta nas telas diz tudo sobre a subserviência com que a crítica, cheia de mordomias, trata as bombas do entretenimento internacional.

RETORNO - Imagem desta edição: Brad Pitt em "Bastardos Inglórios", fazendo uma paródia do Orson Welles de Cidadão Kane (Brad presta). Não vou citar os outros atores nem dar ficha do filme. Está tudo no Google.

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