25 de julho de 2010

LUÍS ANTONIO, O GÊNIO QUASE OCULTO DO SAMBA


Por que o carioca Antônio de Pádua Vieira da Costa é um nome absolutamente desconhecido do público? Sua biografia, que vai de 1921 a 1996, não deveria circular apenas entre especialistas e a velha guarda do samba. Toda vez que algumas de suas maravilhosas músicas são interpretadas, lembradas ou difundidas, sabemos que elas fazem parte das nossas vidas.

Basta dizer que, junto com inúmeros parceiros, é autor, entre muitos sucessos, de Lata Dágua (“Lá vai Maria/ sonhando com a vida no asfalto/ que acaba onde o morro principia”), lançada por Marlene, e Barracão (“tradição do meu país”), imortalizada por Elizeth Cardoso, ou Sassaricando “todo mundo passa a vida no arame”), um assombro popular de Virginia Lane. Mas isso ainda diz pouco. Ele foi gravado pelos maiores artistas da música brasileira e internacional, de Elis Regina a Lalo Schifrin.

Era tão eclético que compôs hits inesquecíveis como Eu Bebo Sim, de canções românticas que marcaram época, como O Poema do Adeus (“Então, eu fiz um bem, dos males ,que passei”) ou Mulher de Trinta (“Você mulher/ Que já viveu/ Que já sofreu/ Não minta”) imortalizadas por Miltinho. Além disso, foi um dos pilares do chamado sambalanço, uma inovação que namorou com a bossa nova, como atestam jóias como Menina Moça (“confissões não ouça/ abra os olhos se quiser”) .

De quebra, é autor de hinos do samba, como Levanta Mangueira (“Mostra que o samba nasceu em Mangueira”), ou militares, como o da Aman, Academia Militar de Agulhas Negras. Pouca gente liga Vieira da Costa com o gênio musical que adotou o nome artístico de Luís Antonio, tão notório (porque sua obra se impõe a todo momento) quando oculto (é filho de quem? Onde estão suas fotos?). Sabe-se pouco dele, ou pouca coisa de sua vida está disponível.

O fato, que talvez tenha contribuído para permanecer até hoje na sombra, é o de ter seguido carreira no exército. Foi tenente de infantaria e integrou em 1945 a Força Expedicionária Brasileira na campanha da Itália. E chegou ao posto de coronel. Queria preservar a farda, seu ganha pão, não dar bandeira, por mais bizarro que isso possa parecer. Mas parece que conseguiu. É comum citar Luís Antônio como o compositor de tantas músicas, mas nunca se viu um programa especial sobre ele, pelo menos não que tenha tido destaque. Tratado pelos conhecidos como Coronel, ou Negro Antônio, o flamenguista Luis Antônio é citado mais de uma vez por Stanislaw Ponte Preta em crônicas reunidas em livros como “Tia Zulmira e eu”.

Amigo íntimo de João do Barro, o Braguinha, Luis Antonio é autor do capítulo A Canção carnavalesca , do livro História do Carnaval, de Hiram Araújo, mas não quis assumir o crédito. Ele era considerado modesto, mas a verdade é que plantou seu esconderijo ao longo da vida. Talvez não quisesse ser tão bem sucedido nesse apagar de pistas pessoais. Mas é comum o Brasil devorar seus melhores filhos e jogá-los na vala comum dos esquecimento. Mesmo que se trate de alguém tão notório e que deslumbrou a todos com seu enorme talento.

Entre seus parceiros, se destacam Klecius Caldas, Oldemar Magalhães, Jota Jr. e Djalma Ferreira. Alguns dos seus poucos perfis disponíveis na internet, como o do clicmusic, ou o do dicionário Cravo Albim revelam que ele "nasceu em 16/04/1921 01/12/1996, foi compositor desde os 14 anos, estudou no Colégio Militar e na Escola Militar de Realengo, passou a compor profissionalmente em 1948, e sua primeira canção gravada foi Somos Dois (com Klecius Caldas e Armando Cavalcanti), por Dick Farney. Em 1951, fez sucesso com o samba de Carnaval de cunho social Sapato de Pobre (com Jota Junior), na interpretação de Marlene, então, no auge da fama. Em 52, Marlene gravou Lata DÁgua (nova parceria com Jota Junior), o maior sucesso de sua carreira."

""Em 1953, obteve êxito com "Barracão", gravado pela cantora Heleninha Costa pela RCA Victor e com "Zé Marmita", um samba com tema que aborda o drama social dos operários "pingentes" dos trens da Central, que viajam pendurados para fora dos vagões. No mesmo ano, Ademilde Fonseca gravou o samba "Se Deus quiser". Em 1954, teve gravados os sambas "Patinete no morro" por Marlene; "Floresta de chaminés", por Carmélia Alves e "Arranha céu", este em parceria com Oldemar Magalhães, por Heleninha Costa. No ano seguinte, Jamelão lançou o samba "Bica nova", parceria com D. Palma e Elizeth Cardoso o samba "Subúrbio". Em 1956, Risadinha gravou o samba "Esquina da vida" e Dora Lopes o samba canção "Tanto faz", ambos de sua parceria com Ari Monteiro.

Em 1958, outro sucesso com "O apito no samba", em parceria com Luís Bandeira gravado por Marlene no seu LP "Explosiva" pela Odeon e regravado depois, entre outros, por Gracinda Miranda e Trio Melodia e Os Vocalistas Modernos. A partir do fim dos anos 1950, começou a compor dentro de um estilo que a crítica batizou de "samba moderno" ou "sambalanço". Um desses sambas é "Recado" um dos mais gravados em 1959, por Maysa, Luís Cláudio, Luís Bandeira e outros, parceria com Djalma Ferreira, lançado pelo então "crooner" do grupo de boate Milionários do Ritmo, Miltinho.

Canções como "Menina Moça", "Mulher de Trinta", "Poema do Adeus", "Poema das Mãos" e, em parceria com Djalma Ferreira, "Recado", "Lamento", "Devaneio", "Cheiro de Saudade" e outros, todas lançadas por Miltinho, foram regravadas logo a seguir por diversos intérpretes, como Helena de Lima, Dóris Monteiro, Cauby Peixoto, Maysa, Elizeth Cardoso e muitos outros.

Outros sucessos são "Luz de Vela" (Helena de Lima), "Quero Morrer no Carnaval" (Linda Batista), "Bloco de Sujo" (As Gatas), "Levanta Mangueira" (Zezinho) e "Eu Bebo Sim", com João do Violão (Elizeth Cardoso) essa, seu último sucesso. Em 1962, o palhaço de circo Carequinha gravou o samba "O engraxate". A partir da década de 1960, compôs poucas músicas. Em 1973, Elizeth Cardoso lançou com sucesso "Eu bebo sim", uma parceria com João do Violão. Seu maior parceiro foi Djalma Ferreira com quem compôs, entre outras, "Recado", "Lamento", "Mulher de trinta" e "Poema do adeus". Em muitas de suas composições expressou a preocupação social com os desfavorecidos e em retratar a vida dos subúrbios da cidade do rio de Janeiro.

Luís Antonio era um dos compositores militares do Brasil. Ele e Jota Júnior (Joaquim Antônio Candeias Júnior), ambos capitães, já tinham feito sucesso com o samba "Sapato de pobre", cantado por Marlene.Servindo na Escola Especializada da Academia Militar, os dois passavam diariamente por um morro ao pé do qual uma bica d'água servia aos moradores. A inspiração nasceria ao verem a cena que descreveram na composição: uma mulher grávida equilibrando uma lata na cabeça, enquanto levava uma criança.""

RETORNO - Os últimos cinco parágrafos, e que estão sob aspas duplas, foram tirados dos sites citados acima. Esta é uma pesquisa limitada pelo pouco que pude acessar pela internet. Deve ter inúmeros textos ótimos sobre João Antônio em livros de especialistas, que não li ainda. Mas fico impressionado que não exista nenhuma foto dele localizável na rede. E nenhuma matéria especial num grande jornal que dê para acessar num clic. Pode ser que exista.

Ficam muitas perguntas. Quem eram seus pais? Qual sua contribuição em cada canção? Onde fez letra, onde fez a melodia, onde participou de ambas quando havia parceiro? Braguinha fala que ele compunha paródias, ou seja, há ainda muito o que descobrir. Publicou livros? Tem algum caderno inédito de poesia ou melodias? Noto que ele sempre foi tratado como personagem periférico, apesar de ocupar uma posição central na música brasileira por décadas, pela qualidade e abrangência do trabalho, que deixaram marcas . Quem era Luís Antonio, o gênio quase oculto do samba? Cartas para a redação.

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