15 de novembro de 2010

BATISMO A GALOPE


Nei Duclós


Bento Martins batiza a rua num ato de guerra
Leva a bandeira do Brasil que enfim nos liberta

Os paraguaios dispersos caem sem luta
Voam na garupa da nossa vanguarda

O Imperador veio convocado pelo drama
Havia um impasse insolúvel entre fardas

Ele ordenou o ataque exausto da viagem
feita com enchente no pampa sem estrada

Chegou a ficar preso na porta de uma casa
Onde foi recebido com galinha d´Angola

O resgate encontrou-o com nova amiga
cozinheira de beira-chão que gargalhava

O riso era oposto ao clima de corrupção
do cerco que a grana tornou confortável

Mas a solução veio a cavalo numa só carga
quando Bento Martins comandou a batalha

O rasgo da tropa em direção ao rio
até hoje existe e serve como prova

Nessa rua riscada pela ação de um bravo
Fui criado solto, mas havia sentinela

Naquela época eu nada sabia de História
Era íntimo apenas da geografia da calçada

Ao grito de “olha-o-Loco” corro para o quarto
Todos somem quando o perigo mostra a cara

Esse medo antigo não se confunde com respeito
Respeito é para Bento Martins e sua glória

RETORNO - 1. Imagem desta edição: Dom Pedro na Guerra do Paraguai, desenho de H. Fleuiss (Semana Ilustrada, 1865). Tirei daqui. 2. Este poema foi feito a partir de um trecho dos Diários de André Rebouças, citado por Monteiro Lobato numa crônica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário