21 de maio de 2011

INTERNET E JORNALISMO: FELIZES PARA SEMPRE?


Este texto é um comentário extendido ao post do meu amigo Cesar Valente (*).


O jornalismo “tradicional” faz parte da internet. Sua versão impressa é só uma parte dele e também vai para a rede, de uma forma ou outra, de maneira oficial ou não. Suas reportagens e informações estão no ar, como todo o resto. No universo digital, está também se diluindo a fronteira entre mídia social e o seu entorno. Tudo é mídia social, não apenas facebook, twitter ou Orkut. Comentar um blog ou site, criar um espaço de próprio de informação e opinião e divulgar links acaba gerando comunidades de interlocução.

Mesmo que haja grande intensidade de participação geral, já que a internet é a mídia das fontes (todos são mídia), ainda existe a divisão emissor/receptor, que não é mesmo um conceito obsoleto. Um post vem de um emissor, um comentário de um receptor. Os dois não tem o mesmo peso num espaço dado. Há muita confusão teórica. Blog de grande mídia por exemplo é coluna. Usa a ferramenta blog mas assim não deveria ser chamado. Um blog é o ambiente, não o que se coloca nele. No meu blog Outubro existe o Diário da Fonte, um jornal autoral, completo, com tudo a que tem direito, de artigo a reportagem, de opinião a argumentação, de fato a especulação, de notícia a memória, de cultura a política, de poesia a esporte.

Confunde-se opinião com argumentação. O truque é reduzir, num debate, a argumentação alheia a mera opinião e assim poder “respeitá-la”, que é maneira comum de ser indiferente. O artigo com argumentos e opinião exige formação pesada, que é a informação intensificada, concentrada. Se uma pessoa fraca das idéias, sem base nem criatividade, emitir opinião, não vou ler nem seguir. Vou atrás de quem tem algo a dizer, mesmo que não diga nada e exiba o principal, que é o domínio da linguagem. É precisos ser craque para encher espaço só sugerindo uma atração,como faz Chaplin no seu memorável circo de pulgas em Luzes da Cidade.

Uma seção de editoriais faz parte do jornalismo e muitas vezes é sua principal atração. Um cronista pode dizer muito mais do que um repórter, depende de quem (e não me refiro a apenas aos que tem capital simbólico, basta a competência). “Apurar” não justifica a credibilidade.

O problema é que ainda existe o status da mídia bem posta e seus articulistas e jornalistas notórios que não interagem de verdade com o público. Fazem o papel de popstar distribuindo docinhos na boca dos espectadores, um elogiozinho aqui, um agradecimento acolá, uma citaçãozinha sem importância. Acabam mantendo seu lugar cativo na torre de marfim. Para mudar essa situação tem que descer do trono, fazer rodízio, trocar de papel de emissor para receptor e vice-versa.Fica difícil quando temos correspondentes em Washington mais imperiais que o Império e que só faltam enviar tropas para o Paquistão. Ou outros que se adonam na palavra democracia e distribuem cascudos para quem não se comportar democraticamente direito. Ou especialistas em economia que lucram na especulação financeira.

Se esses papéis hegemônicos se mantêm, não adianta também os tradicionais abrirem mão de sua postura se existem candidatos emergentes prontos para assumir o papel de novos especialistas, que pontificam sobre as novidades dentro do modelo tradicional. É uma sinuca de bico. Não há soluções à vista, pois aprendemos fazendo. Estou fora das redações tradicionais, mas o mundo virou uma grande redação. Todo mundo pauta, faz editorial, artigo, reportagem etc. Apurar só usando a internet exige alta especialização. Costumo ter colaboradores que me ajudam e trazem à tona o que está oculto no grande caos da rede. É muito mais do que tínhamos quando havia apenas de telefone, arquivos ou TV.

RETORNO - 1.(*) Por que estou falando isso? Porque sou assíduo do blog de Cesar Valente, De Olho na Capital e escutei lá o excelente debate "Redes Sociais transformam o jornalismo?”, que foi ao ar na quinta-feira, dia 19 no programa Jornalismo em Debate, transmitido ao vivo pela Rádio Ponto UFSC, nos estúdios do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Além de César, participaram também Alexandre Gonçalves (Coluna Extra e RockSC), Alexandra Zanella (DC Online) e Rogério Christofoletti (UFSC e Monitorando). Por telefone,participou o jornalista Douglas Dantas, diretor de Mobilização em Assessoria da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), que estava em Vitória, ES.O audio do debate está na integra no DONC.

2.Imagem desta edição: final de Tempos Modernos, de Chaplin.

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