28 de maio de 2011

PROTAGONISMO SABÁTICO


Não se assuste com o título. São palavras da moda. Servem para as buscas: quem quiser saber sobre elas vai cair aqui nesta armadilha, neste mundéu de palavras. Porque a idéia é apenas implicar com o uso recorrente de algumas verbalizações, que se tornam consagradas de uma hora para outra. É um fenômeno “viral” (palavra que também é moda): de repente, todos começam a falar do mesmo jeito sobre as mesmas coisas. É uma forma de mascarar os fatos. O sujeito fica desempregado depois de um tempo ou então tem um problema grave e se retira e diz que vai entrar em período sabático. Ou seja, abdica um pouco do protagonismo. Arre.

Dei uma olhada hoje num texto sobre João Gilberto e a bossa nova. É a mesma coisa sempre, escrita pelos mesmos ou seus clones. Que a bossa nova mudou tudo, que João virou Cult no final dos anos 50 e por aí vai. Quem não sabe isso? E se não sabe, basta botar no Google. O que deve fazer um pensador militante quando há algum evento, como por exemplo os trocentos anos de “Elvis não morreu”? Falar da revolução dos costumes? Deu para bola. É preciso criar outras abordagens. De preferência, falar sobre outras coisas, e não sempre voltar ao cânone. Será preciso que todos os sobreviventes das décadas de 50 e 60 morram para acabar essa onda do sonho acabou o da bossa que revolucionou a música?

Ah, mas as pessoas não sabem. Claro que sabem. O desconhecimento hoje não faz nenhum sentido. Só a Wikipédia em inglês (e se desconhece a língua põe no tradutor automático que pesca alguma coisa) tem de tudo. Esses dias fiz uma rápida pesquisa sobre trens. A partir de um evento, a primeira viagem comercial, fui cavando no tempo por meio de links afins e caí em quatro inventores de nacionalidades diversas , que somaram suas sacadas até termos a estrada de ferro completa, que foi concebida originalmente para transportar carvão e por isso o combustível usado é exatamente...o carvão. Sempre achei que era para transportar gente, mas isso foi efeito colateral .

O transporte de carga é a vocação original do trem, mas o troço evoluiu e se transformou no transporte do futuro. Menos no Brasil, onde o imaginário estacionou na Maria Fumaça. Preferimos nos entupir de automóveis (e aí estão chegando as carroças chinesas), poluir tudo com fumaça do que ter trem elétrico correndo de um lado para outro e transportando milhões sem congestionamento. É que o trem perdeu entre nós o protagonismo e entrou num irreversível período sabático. Só pode ser.

Fico impressionado com nossa incapacidade de fechar uma idéia, de ultimar um projeto, ficando apenas nas bases, no início, como se nos recusássemos o protagonismo e optássemos por marcar passo no limbo. Não sei se a culpa é da cultura brasileira que está em nós ou apenas uma série de coincidências. Hoje por exemplo, se resgata a memória do inventor do rádio e outros grandes insights. Padre Landell de Moura, que obteve patente dos seus trabalhos até nos EUA, mas não levou a fama nem o dinheiro. Ou seja, não teve protagonismo (que palavra feia!). Seu laboratório foi destruído por fanáticos pois não entendiam como manipulava emanações de energia para obter resultados. Um deles foi conseguido pelo italiano Marconi, que registrou o invento e em 1930 NÃO acendeu as luzes do Cristo Redentor no Rio por meio das ondas, pois o mecanismo falhou e optaram por uma solução caseira para o evento dar certo.Marconi levou a fama por ter se apropriado do que Moura tinha descoberto décadas antes, mas não conseguiu realizar, de fato, seu grande feito pioneiro no Brasil! Ficou o protagonismo.

Mas tem mais. Santos Dumont inventa o mais pesado que o ar e não registra. O padre cearense inventa a solução definitiva para a máquina de escrever e envia o protótipo e os desenhos, tudo para uma indústria de armas americana, a Remington. Parece que o Bina, invenção de brasileiro, foi abocanhado por espertalhões (não segui o assunto, tem que botar no Google). E por aí vai. Por que somos assim? Preguiça? Gosto de criar mas não de cuidar dos finalmentes? Sei lá. Vivemos encostados e notamos que chineses e gringos compram adoidado nossas terras pois querem fazer como no Texas, em que compraram tudo dos mexicanos e depois instalaram lá um estado. Debocham dos que se insurgem contra a entrega do território nacional, como se fôssemos eternos. Somos precários, escassos e podemos dançar bonito.

No concerto internacional das nações, ficamos com a lambada. Ou a lambança.


RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

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