8 de agosto de 2011

QUATRO QUADRAS



Nei Duclós

Cruzei o continente até a baía
onde avistaria a caravela decisiva.
Mas só vi Netuno perto da fogueira.
Tinha frio, o deus que ao mar estava preso

Já soltei esse grito achando que escutavam,
agora apenas respiro olhando a presa.
Sou o tufo de plantas num deserto.
Lá mastigo o medo

Levei o verbo ao prado encharcado de ruídos
ele amarrou a caça tremendo antes da cerca
Dei um tiro. Trouxe então na boca tensa
o poema, ainda palpitando, vivo

Há um momento eterno entre teu andar faminto
na rua estreita tomada pela guerra
e o desfecho que te aguarda num beco.
Esse é tempo amargo dos poetas


RETORNO - Imagem desta edição: Poseidon, no filme Le Mépris, de Godard.

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