11 de janeiro de 2012

AMANTES


Nei Duclós

Acorda para eu te fazer feliz, disse o Sol para a Terra.
Vem, disse ela, me revolve e desperta.
Monta em mim , abro a guarda, me devora

Sou penetra em teu solo frio, disse o Sol para a Terra.
Foi a Noite, disse ela. Me convenceu que as trevas
eram eternas. Medra agora minhas ervas

Pincelo a cor em tua lava, disse o Sol para a Terra.
Só assim serei eu, disse ela. Por enquanto está morta
a delícia de ser bela. Quero teu raio em minhas pernas

Onde estavas que te perdi? disse o Sol para a Terra.
Foste embora cedo, disse ela. Fiquei à mercê das estrelas
Elas piscam para a nuvem sua solidão de esperas

Agora fico para sempre, disse o Sol para a Terra.
Melhor não cumprir a promessa, disse ela.
Posso secar de vez se não fizeres o rodízio desse cheiro

Não ficarás mais só, disse o Sol para a Terra
Deixarei de presente o colar da Lua Nova
Vésper e Dalva toda a vez que vier ou for embora

Esse presente eu aceito, disse para o Sol a Terra
o céu é minha caixa de jóias. Ficarei diante do espelho
querendo sempre que voltes, tesão de dias claros

Terás prazer em cada minuto, disse o Sol para a Terra
na estação da flor, da neve ou do fruto
serei teu único amante entre todas as esferas

Durmo no mar quando está escuro, disse o Sol para a Terra
Forjo na água e no sal o anel da tua doçura
Digo sim, disse ela. O arco-íris é o altar do nossa pele



RETORNO – Imagem desta edição: obra de Eugene de Blaas

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