16 de janeiro de 2012

MAPA


Nei Duclós

Agora que estou perto, o que faço comigo?

Não tenho o mapa, minha bela. Uso a palavra para chegar ao ponto da entrega. Por isso estou rodeado de escombros, o sentido que desperdiço na trilha

Queres saber como eu sou. Sou um desenho oculto na moldura que protege a primorosa pintura da tua face

Fui demolido por tua dúvida. Cheguei a desistir do sentimento. Mas tua imagem voltou, como oferenda devolvida pela onda. Amor tem vocação de praia

É difícil acertar o veio da mina que guardas na penumbra. Costumo ferir as bordas porque não tenho luz nem freio. Não sei como me aturas, confidente

Teu vento soprou alto demais. A vela ficou na calmaria enquanto eu via os pássaros sendo carregados pelo suspiro que deveria ser para mim e foi para o mistério

Fizemos as pazes. Deus foi regar o jardim

Cumprimentos que são um adeus. Recepções que rejeitam. Elogios que esculacham. Amores que cultivam o ódio. Sonhos pesados. Armadilhas

Você sobra em inteligência. Não sei onde ponho a emoção de te ver quando te leio

Somos apenas a vontade de acertar. Ser aceito é sempre uma surpresa. É como se um pássaro saísse de súbito de uma árvore morta

Estavas só com tua grandeza e talento. Fui te estocar com minha admiração. Preciso aprender a ser mudo diante da beleza

Nunca me acho merecedor quando aceitam. Me acostumei ao não, como o cais à maré

Quando finalmente cedi ao convite, fui recebido com frieza e olhares de reprovação, como se eu fosse um penetra. Voltei a pé, tomando chuva

Te descobri em tua praça, onde ocupas um banco cativo. A estátua te pede conselhos, mas ficas concentrada, indiferente

Não erras uma frase. Como posso chegar perto se brilhas como uma supernova?

Bastou saber um mínimo de ti para logo ir construindo uma cidade de cartas. Trafegas em outro patamar, onde não alcanço com minha fantasia de saltimbanco

Na primeira vez em que nos falamos, fiquei na minha janela querendo descobrir a luz que identificava a tua. Culpei o binóculo por dormires cedo



RETORNO – Imagem desta edição: Virginia Cherrill em City Lights, de Chaplin

Nenhum comentário:

Postar um comentário