30 de janeiro de 2012

VERDADE


Nei Duclós

É tudo verdade, disse o sonho.

Tenho tanto porque recebo de ti. Fonte intacta que jorra infinita.

O sentimento está em outro plano. Lá onde fica o segredo que mantém o mundo vivo.

Compartilho o que não tinha, mas agora faz parte de mim depois do teu gesto que me reinventa.

Estás atenta, de ouvido no solo onde sentimos. O apito do trem, o trote, o fogo de artifício: todos os sinais mexem nos teus cabelos.

Não retire o que disse. Já escutei e atravessou o peito como um raio divino.

Te encontro no canto, virtuose de mântras.

Nunca escrevo. Sou minhas palavras.

Só eu enxergo tuas esquinas, tuas alamedas, tuas estradas. Só eu enxergo teus caminhos. Os outros te vêem parada

Ninguém é vencedor, já que todos vão morrer. Ninguém é perdedor, já que todos puderam nascer.

Quando dás as costas para mim é porque estás em frente ao mar. É quando abro uma exceção e deixo de ser o mar. Netuno reassume no tempo do teu olhar.

Agora que o erro se apropriou também da coragem, decidi assumir o medo, último reduto da humanidade.

Deixe as frases num canto e fui observar os vagalumes. Eles piscam intermitentes revelando flashes do teu rosto, que brinca na escuridão de esconde esconde.

Quando eu for embora, os poemas te farão companhia. É onde me encontrarás, peregrina, ao lado do que espalhei como brisa após a chuva.

Não perco um segundo pois sei do meu destino. Sou o migrante que cruzou o deserto montado num corcel de espuma.

Ninguém poderá roubar o que enterrei dentro do teu coração.

Ficaste mais bonita depois da inundação de poesia. Perguntaram qual seu segredo e sorriste numa gargalhada íntima.

Estás sempre te despedindo. Por que, velocímetra? Segure os ponteiros quando eu chegar na tua cintura.

Concordamos no atacado, nos atacamos no varejo.


RETORNO – Imagem desta edição: Kate Winslet.

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