21 de abril de 2012

PEREGRINA



 Nei Duclós

Pronto, tocou o sino. Tire a capa, peregrina.

Suspiro é o sopro que escapa do estrago.

Encaixe perfeito, começa no voo, termina no beijo.

Chego perto, te ultrapasso. Me seguras no pulso e rodas. O chão é gelo liso e nem chegou o inverno. Nosso calor derrete a pista.

Parece oficina, tem até chave. Como suportar esse nó que aperta o laço sem dar no mínimo um grito?

Me tiras da roda para um particular. Não era nada, só ciúme.

Tinha um compromisso. Isso foi antes do teu sorriso.

Queres de novo, estou de saída. Pense um motivo para que eu fique. Ok, não precisa.

Na roda gigante, fico na gerência. Sobes até as estrelas. Depois desces, em câmara lenta.

Demoro o quanto posso, mas sempre chega a hora. Choras.

Dentro de ti, me desmancho. Quando saio, me aprumo. Pedes, eu volto.

Antes da meia noite, me prometeste. Quando chegou o momento, sumiste. Desencontro assombrado não deixa pistas.

Passamos a tarde conversando. Depois fomos embora, cada um para um canto. A noite cobriu tudo com seu manto. Nenhuma luz no horizonte.

No meio do jogo, que já era de retranca, você tira o time do campo.

Você é a mais malvada do Velho Oeste. Some na poeira e me deixa ocupado com os malfeitores. De vez em quando aporta na carruagem carregada de compras. Para ti acorrem os servos. Vou descarregar o revólver para o alto!

Jogamos conversa fora. O que sobra é o beijo.

Quando vais me dizer que me quer? Nunca? Tudo bem. Eu também sei fingir

A imaginação acorda antes e fica tentando. Levantamos. Ela some.

Estive fora de ti, agora é o oposto.

Meia noite e onze. O que falta para que amanheças neste noturno sereno?

Meia noite em ponto. É quando a noite se parte ao meio

Não fui mais até a praça. Dizem que continuas à espera, no mesmo banco, que volte a primavera para que possamos continuar conversando. Mas este meu estágio vai durar tantos anos. Quem sabe você vem até aqui, e me devora?

Vou agora falar de outras coisas. Teus pés, por exemplo.

Você não permite que eu durma, zumbido de encrenca.

Nem parece que um dia fomos amantes.  Me tratas como se eu não te conhecesse, tratante.


RETORNO – Imagem desta edição:  Jane Fonda.