22 de maio de 2012

BÚSSOLA


Nei Duclós

Sou teu professor de bússola: aponto outros nortes, imanto os ventos, oponho o cânone, oriento íntimas agulhas.

Bom dia musa. Pus minha camisa no piso, junto com a tua blusa. E lá vão ficar, por dias.  Casal de roupas sem uso. Nossa pele é o que respira.

Choque no trânsito:  puxas a ponta do cordão do short para acomodar a bomba, tua coxa.

Fantasmagoria: queres como nunca, mas jogas água fria.

Uma hora dá certo. Basta fluir, esse sonho que pousa à toa.

Uma hora dá certo. Basta fluir, esse sonho que pousa à toa.

Já perdeu bastante tempo. Agora ceda. De tocaia todo o tempo, entenda.

Esse amor vindo sem querer é pura pele, duelo de arrepio, água de cheiro. Nada segura o que nem estava escrito, gata tremenda.
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Chega. Venha em curto circuito, não tema. Trema.
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Chame como quiser. Só há um jeito de dizer. Te amo como mulher.

Não vou falar mais nada. Virei um beijo.

Mania de entender mulher. Mulher tu não entende. Não seja pretensioso.

Amanheceu e nem me dei conta. Estavas iluminada demais para eu notar a concorrência.

Este romance vai desaguar no mar e se perder nos corais submersos da nossa história

Desconfias do que eu digo. Melhor acreditar que tudo não passa de mentiras. A poesia é um pássaro de luz sem serventia. Melhor ceder à secura, minha vida.

Antes de eu te dizer, não existias. Eras estrela de um outro céu. Foi preciso coragem para te trazer.

Escrevo este romance que não acaba. Apenas dorme depois de incendiar a madrugada.

No meio da praça sou teu segredo. Nossos olhares se cruzam no momento da banda. É quando me tocas e todas as estrelas caem no teu colo.

Misto de emoção e memória, nosso amor não existe lá fora. Só aqui dentro, onde moras.

Aos poucos nos acostumamos à ausência. Há tempos parou de doer. Talvez nunca tenha doído. É como risco na areia que a onda engole. Esquecemos o nunca ter havido.

Estavas quietinha esquecida de mim. Aí mandei uma nuvem que desceu em teu colo. O que fazer com alguém que manda uma nuvem de presente? Daquelas de algodão, de tarde com brisa.

Te perdi, acho.

Desenganado, gastei tudo o que tinha. Não era muito, mas o que faço agora com a sobra de vida? Talvez seja hora de pegar o navio para a plena poesia.


RETORNO – Imagem desta edição: Liz Taylor.