17 de junho de 2012

AO MESMO TEMPO AGORA

Nei Duclós

Ao ficar acessíveis graças aos recursos digitais on line, os produtos culturais ultrapassam o limite da lembrança, da emoção e do gosto e atingem um patamar mais elevado de costura criativa, que resulta numa percepção mais apurada do que lemos e vemos.

Ficou mais fácil fazer cruzamentos e abordar com originalidade o que foi visto ou lido de uma forma obsoleta, determinada por sintonias antigas. Isso nos livra dos analistas de sempre e nos torna protagonistas de uma análise que superpõe conhecimento e intuição, visão pessoal e engajamento coletivo.

Precisamos aproveitar e aprofundar nossas preferências para habitar o espírito. Pois não existem mais lembranças quando se fala em produtos culturais. Está tudo on line. Música, filme, livro. Fim da saudade, é tudo simultâneo. Resenhar um livro de 1939 ou um filme de 1975 não é um ato de memória. Tudo é contemporâneo. Fim do conceito de "lançamento" ou de "novidade". Está no ar, vira "passado", ou seja, agora. O que foi feito em 2012 tem a mesma presença do que foi feito em 1930.

Lembra daquele filme que vimos em eras remotas? Sim, está no you tube, acesse agora. E aquele livro raro que nunca consegui ler está em pdf.

Segundo Mario Xavier Antunes de Oliveira, "os comentários do Nei Duclós me fazem pensar também que pela primeira vez na história, três gerações -- avô, pai e filhos, por exemplo -- conseguem conviver e compartilhar informações e produtos culturais simultaneamente, em tempo real, por uma mesma mídia comum, sem limitação de tempo, espaço, registro/documentação, acesso ou reprodução..."


RETORNO - Imagem desta edição: Orson Welles e Joseph Cotten em Citzen Kane, 1941.