9 de junho de 2012

NEBLINA

Nei Duclós

Sumiste na neblina, como nos romances policiais antigos, me deixando de mãos atadas sem o domínio sobre a autoria da trama que nos separa.

No colo teu balanço leva às alturas. Feche os olhos, vertigem.

Finges que não é contigo, me deixando indeciso entre a realidade e o sonho. Como se eu inventasse o que me dizes com teus olhos famintos.

O poeta não sonha, ele acorda na cama feita do teu corpo.

Não tenho motivos para ficar à toa, buscando a poesia que te encanta. Nem para ficar focado em outra coisa que não seja teu olhar gostoso.

Não se esconda em pinturas de outrora. Tens a persistência de um estouro. Resistes com teus riscos no rosto, flor da fantasia e do abandono.

Tua mão em concha abriga o motor do meu sonho. Pulsa, vibração tamanha.

Transparente, me escapa. Fiz uma arapuca de palavras. Caiu só de propósito, porque assim decide a fada.

Não me deixe no meio do oceano. Cairá a noite e perdi o mapa do farol do teu comando.

Não sou invasivo. Mas não caia na asneira de acenar de sua gruta se não quiser que eu chegue.

Na parede te aperto no momento da fuga. Depois te deixo ir embora de coração aos pulos, fôlego curto.

Achas que sou feito de algum material sem sentido. Não imaginas o sangue que tenho para inventar o amor que jogas no lixo.

Enquanto me comporto vejo como se passam contigo. Deveria desistir mas me contrario. Vou bater na cara de todos esses cretinos.


DEZ VIDAS

Fronteira que ninguém ultrapassa, pois é impossível conceber algo além dessa beleza. Lá montaste guarda, beldade da minha terra.

Toda vez que te vejo, lamento o tempo que não tenho. Preciso de dez vidas para chegar onde quero: perto da imponência do teu beijo.

Tua felicidade seria junto a mim, mas quem te convence? És estrela, e eu o cosmo frio que te abriga sem esperança.

Queria estar junto no passeio. Seria teu recreio, rindo por dentro a doçura que despertas em meu coração seco.

Agora chega, delícia de presença. Não me verás tão cedo. Emigro para a fantasia de ser teu para sempre.

Depois ficaste imóvel, portento, a mostrar como és a bela entre todas as maravilhas do planeta. Sou o escriba desse jubileu de sonho, que é tua perfeição de deusa.

Uma hora um príncipe te leva e ficarei a ver navios desse rio que te abraça. Terei de me comportar, destino adverso.


RETORNO - Imagem desta edição: Rita Hayworth.