13 de setembro de 2012

A FLOR NO LIMBO



 Nei Duclós



tu é a palavra não dita, bonita, que pronuncio dentro, como um corte profundo, fim de mundo, vida pelo avesso, quando começamos algo que nos faz intensos

e não te vejo a não ser que digas o que jamais escuto e está comigo desde aquele tempo em que fomos vistos conversando numa varanda sobre o rio no crepúsculo

e ninguém mais conta quando dividimos o encanto mútuo de reconhecermos o que pega trêmulo em nosso corpo ainda cheio de andares bruscos

e por isso te seduzo com certo alvoroço em tuas dobras úmidas porque sou ungido pelo dom de um ouro que achei no acaso que sabemos plenos de especial doçura

quero que dobres esse rosto leve para a fonte que existe no cofre absurdo de uma ametista que por fora é chumbo e por dentro é teu coração mais lindo que a Lua

e que não desista de me querer sempre mesmo que o dia fuja para o deserto e formos pegos em flagrante uso de um sonho que é nosso porque assim quisemos

só não vale chorar porque devemos estar seguros de que a compulsão de estarmos juntos vem de um lugar desconhecido onde o mistério nasce como a flor no limbo


RETORNO - Imagem desta edição:  Natalie Wood.