18 de outubro de 2012

ALFINETE



Nei Duclós
 

Não fomos feitos um para o outro, nem compartilhamos o mesmo destino. O que nos atrai é a liberdade.

Um telefonema urgente interrompeu minha conversa. Era você, carente. Precisavas de um alfinete para grudar a Lua Cheia.

O importante não é amar a esmo, como se fosses um pé de vento, mas o que podes enxergar com o sentimento. Essa visão de conjunto que decifra o oculto.

Faz de conta que não dói separar-nos por algumas semanas. É só o carro sumir no horizonte para saires desesperada com teu vestido rasgado de tão louca.

Não é amor, compromisso do sentimento, é coincidência. Só acontece em campo aberto, quando vamos em bandos fotografar as emas. De repente espichas o pescoço em minha direção, tratante.

Lençol liso, tudo arrumado? Passou a noite fora. Venha me contar antes que eu vá embora.

Tarde sem amor não faz sentido. É quando as nações declaram guerra sem nenhum motivo.

É o mito do amor, gruta íntima. Prazer do mergulho ao borrifo

Não me reconheces mais, mas o amor não mudou.


RETORNO – Imagem desta edição:  Audrey Hepburn.