9 de outubro de 2012

INICIAIS NA NEBLINA



Nei Duclós

Te dediquei um acróstico em código morse. SOS diziam os sinais luminosos. Na neblina eles formava as iniciais do teu nome.

Deus é poeta, mas não suporta a gozação. Por isso usa pseudônimo.

Reúna as pessoas ao redor do poema. Deus assiste. Ele gosta da palavra plena.

Te ignoro, por enquanto. Para acumular demanda. Quando voltar a mim, sai da frente.

Aproveitaste meu sono para vir espiar a oficina. Mexeste nos versos proibidos. Acordei com o barulho. Flagrei teu rosto vermelho.

Nos jogamos gelo logo que irrompe a semana. Nenhum álibi se justifica para esse crime. Desperte o vulcão extinto há milênios.

Não interrompa a vontade que nasceu no sábado e cruzou o domingo como um meteoro que se incendeia. Segunda é sexta, no novo calendário.

Acabou o fim de semana, me avsiaram. Decretei feriado para o amor, respondi.

Fomos para baixo das árvores. Os pássaros riram da minha dificuldade. Me atrapalhei com teus elásticos.

Ficaste de tocaia a noite inteira. Me pegaste no pulo, logo que o sol deu as caras.

Desceste poucas camadas. Vá mais fundo, para encontrar o que fará tudo.

Não é fôlego curto. É a falta de oxigênio no ar sugado pela saudade.

Voltarás à superfície, mergulhadora insaciável, e trarás nos pulsos a pele ardente da nossa estranha coragem.

Tudo o que é mulher nos diz respeito. Esse gesto de consertar o salto quando nos abaixamos, tirar o espinho do calcanhar direito e depois olhar para o rosto deslumbrado diante do cavalheiro.

Concordo, contigo sou mais exigente. É que me tiras do sério, amor distante.

Haverá ressaca deste desejo. Melhor assim, flor que se cheire.

Você gosta e me repete isso a toda hora. Gosto de ouvir e pergunto de novo. Gosto, você diz, tentando se equilibrar sobre as águas.

Não me deixe só, sou minha pior companhia.



RETORNO - Imagem desta edição: Marceline Day.