19 de novembro de 2012

ENTRE A FRUTA E O TOMBO



Nei Duclós
 

Cabelo no ombro, perna de tango. Olhar indefinido entre a fruta e o tombo.

É a Lua Nova, disse a Noite. Minha jóia favorita.

Sopro por baixo do pano. Origem de oculto delírio.

Corpo celeste, ninguém chega perto. Só se mostra como estrela.

Brisa gelada, suspiro noturno, lava a aura impregnada da tarde morna. Infla velas no escuro.

Cientistas comprovam o que os amantes desconfiavam: a Lua cheia ocupa o centro do sistema solar.

Explosões solares tornaram a tarde de domingo mais insignificante do que o normal. O aviso é aguentar até o cair da tarde, quando Vésper varrer a modorra acumulado e colocar um brilho na mente exausta.

Fingias desesperar mas sabias que eu viria. Por isso deitaste entre flores, lisinha

- Está chovendo, disse ele.
- Viu só o que você fez? disse ela.

Esqueci a chave da gaveta dos meus versos. Vou ter que improvisar. Pelo menos não me repito, exigentíssima.

Ganhei um "querido" da musa. Perdeu a noção do perigo.

Anunciaste que estavas amando. Enfarte coletivo dos admiradores. Mas era alarme falso. Franca recuperação em massa nas UTIs.

Corpo de fim de domingo. Furioso de tanto tempo.

Trouxe poucos versos, ainda intactos. O resto estava sujo de batom.


RETORNO – Imagem desta edição:  Nicole Kidman em Grace de Monaco.