21 de novembro de 2012

FINA CHUVA DE ORVALHO



Nei Duclós
 

Eu apenas imagino, fina chuva de orvalho.

Falamos a mesma linguagem. O sorriso, quando estamos no auge.

Pegue o que te espera há tempos, sem ceder um momento.

Escolhi a cor creme, feita de seda. Havia ondulações, como se houvesse praia e tudo fosse abaixo, até o tornozelo.

Se gosta, diga. Mesmo que seja em silêncio. Eu capturo cheiros.

Provei você antes do tempo. Melhor assim, enigma permanente.

Estás pronta para o bote. Depois não finja inocência.

O mundo te esquece, mas eu lembro. Estou sempre prestando atenção na curva do teu joelho.

Não sei se, ao me querer, devo agarrar-te. Pode ser que haja jogo, um talvez sigiloso.

Perca esse ar de quem começa. Há tempos és minha promessa.

Cada ponto da tua pele eu beijo. E uno com meu lápis, a língua que te canta.

Tentei esconder o presente, mas descobriste. Arrancaste do meu bolso a renda que escolhi a dedo e embrulhei como se fosse um crime.

Não tenho piedade quando estás entregue. Me prevaleço, sou tua vantagem.

Foges porque me repito. Vou compor uma valsa, então, para amassar teu vestido.

Já fui tarde. Agora sou boca da noite. Passe o batom, como um açoite.

Fantasia não nos diz respeito. Diz beijo longo, mão no peito.

Pingas o fogo que me janta. Depois é doce, o tempo todo.

Aceitei o exílio por um longo tempo. Depois me anistiei e voltei ao amor, minha pátria.

Tens outro ritmo, outro compasso. Quando desisto, me abates. Quando retorno, me escapas.

Não escondo nada, não falo por charadas. Apenas evito o que se define em outro plano. Corpo é paralelo à palavra.


RETORNO – Imagem desta edição: Naomi Watts.