30 de novembro de 2012

SOLO



Nei Duclós
 
Procuro a nota exata, vinda de um sopro
o evento morto por ter passado o tempo
e que se impõe num bordado de talento
moeda emprestada de deuses bêbados

Toco primeiro o estilhaço, música ambiente
depois saio para a rua onde está o conflito
e sintonizo o saxofone no canto de um beco
quando roça o corpo em queda do garoto

e se somam vozes de insurgência boquirrota
todas dentro do que faço como partitura
e palmilha a repressão, a dor e a loucura
e também a doce confusão do amor na ronda

Aos poucos volto para o torno de suspeita fonte
que acompanha a orquestra dando rasteira
músicos sem nome, cantoras de estribilhos
compartilham o reduto impregnado de neblina

Não curto o clima, na prontidão de olho bruto
a rebentar o tímpano interno de outras rotas
viajo na mente de quem me escuta, carreira solo
trovador a pé no céu encilhado de um cavalo   


RETORNO - Imagem desta edição: Veronica Lake.