1 de dezembro de 2012

CÓDIGO DE ORIGEM



Nei Duclós

Teu corpo expressa o paraíso. É o código de origem da felicidade.

O dia é quando amanheces em mim, serena de orvalho.

A noite é o eu profundo que dorme com as estrelas.

Sinto que estás comigo, ruptura viva. Pássara implicante que ainda descubro o ninho.

Tão próxima de mim eras perfeita e eu não te conhecia. O mundo é assim, não faz sentido.

Tanta paixão e nenhum toque. É como se não tivéssemos corpo. E no entanto sobro, mar, em tão escassa praia

É como num duelo ao entardecer. Mas nem precisas atirar, basta dar alguns passos em minha direção para a minha queda.

Te vejo e viro poema.

Teus ombros escorregam meus olhos, que retomam a curva surfando sem fôlego.

Pássaros saem das tuas costas fugindo de gaiola de chaves súbitas. Olhas para o voo com teu perfil de nuvem.


Meus poemas são tua coincidência. É porque moro em ti, desavença.

Pode te ocupar com fingimentos. Faz de conta que não me amas, lendo poemas de ponta  cabeça.

Existe esperança para quem perdeu o que não tinha fim?

És outra pessoa quando estás ausente. Não te conheço. Quando voltas, peço que se apresente.

Não adianta me cobrar arrependimento. É o que faço sempre.

Não confesso o que me passa. Evito que saibas. Fujo para o deserto. Teu manto de beduína me acha no vento.

Te entregas ao sol como se eu suportasse assistir o espetáculo do teu recado.

Apostaste na desordem. Deixaste na areia o pano mais remoto.

Clima complicado. Te imaginei sozinha com tuas águas pelo joelho.

Descansei de ti na sombra da saudade.

Palavras de amor dependem do momento. Nem sempre são de delicado trato. Pode ser algo louco, como te arrebento. Sabemos que todo mundo sai inteiro. Mas o que vale é o dique que se rompe.

Ia escrever sobre a guerra, mas vi tua imagem rindo sob a blusa branca. És o único tiroteio que preciso.

O teu querer é que conta. Quero ser corrente deste teu rio amante.

Conserte o parapeito de onde me vês atento ao que tens de mais belo.

A Lua cheia acorda cada vez mais tarde. É a soma das ressacas de inúmeras baladas. Karaokês com Júpiter na madrugada

Quando cansares de não ser minha, bata na janela, aquela que abre para o rio.

Não temos mais assunto. Vamos nos aprofundar em ficar mudos. O manto da Lua se encarrega de promover acordos.

Passas por meu jardim acariciando as flores. Transmites tua seiva de delírios.


RETORNO - Imagem desta edição:  Emmanuele Béart.