31 de maio de 2013

PALAVRA QUE SONHA


Nei Duclós
 
Poesia é a palavra que sonha. E que voa quando desperta.

Leia pelo avesso o que escrevo direito. Aí fica certo.

Agua de chuva na sarjeta. És flor colhida que passa rente à guia. Sou o barco de papel onde encostas as pétalas em pânico.

Queres que eu reparta tudo contigo para que caibas em mim.

Passei bem o dia. Ficou estendido na mesa da cozinha. Depois sacudi, fiz lençol de cama.

Viver complica. Morrer decide. Amar resolve

Não fiz versos, faltou matéria prima.

Contigo faço jogo duplo: dois corações para caber o que sinto.

Nos amparamos, fruta que tomba. Somos humanos, flor da montanha. Quero teu sopro, luar na varanda

Amor, lembra? Amor, não esqueça. Amor, venha.

Não te convenço porque estás ocupada em não se convencer de nada.

Poema é pó de letra. Perco o pé na beira, tiro de espoleta, pesca de piava, assobio de correnteza. Som de colégio no recreio

Ela foi embora, disse o anjo. Sei que não é verdade, falei. Te usou para me fritar no azeite quente.

Não me respondes, fundura de canyon. Venha à superfície, desperdício de beijos.

Nem todos morrem. Alguns ficam para semente. E brotam, como a urtigas.

Não diga com todas as letras. Guarde algumas para fazer companhia ao silêncio

É dificil disputar você com você mesma.

Te dei linha, te soltaste. Pousar ficou no passado.

aímos feridos, nos debatendo. Precisamos reaprender o voo.

Joguei fora os versos. Não te serviam mais. Inventei outros. Provas um por um fazendo muxoxo. Te decides pelo mais afoito. Eu sabia!

Tenho essa postura porque me vejo em outro mundo. De lá espreito o que preciso ser, servo do teu beijo.

Não vou começar cedo, mas continuar o que fizemos até tarde.

Faça recall de si mesmo. Mande recolher os lotes de vida que andou espalhando.

Silenciar nem sempre é calar-se. O silêncio tem majestade.


RETORNO -  Imagem desta edição: Chrfistina Hendricks.