10 de setembro de 2013

ABRA O PRESENTE



Nei Duclós

Não temos futuro. Abra o presente.

Cuidas de ti, joia do gênero. Pena que só penso em estragos.

Saímos correndo para o compromisso. Levamos junto o verso ainda vivo. O que colhemos na noite infinita.

Não faço outra coisa senão te ver, luz da manhã.

É cedo ainda para sonhar? Vamos deixar que o dia rebente de dor? Melhor prevenir amor na viagem da aurora para o entardecer.

Não desconfie quando respondo. Não tenho outra intenção do que levar um tombo quando chegarmos a um acordo.

Impossível evitar que machuque. A diferença tem seus truques. Desmaie depois da luta livre

Não és bonita, mas uma fera. A beleza te devora e em ti se transforma.

Não estavas mais quando cheguei perto. Moro no mundo paralelo. Migro para o inverno.

Compões,delicada, a estrutura do voo. Te concentras, asas de um novo tempo.

Perdi o que ia dizer, escorregou para o fundo. Um dia retorna em forma de susto.

Não temos futuro. Abra o presente.

Pingue a gota escarlate em teu aceno. Vejo de longe e não me perco.

O que é distante um dia fica junto. Prepare-se, pingente de glória. 

Senti que vinhas vindo, maré de espumas.

Não se esconda, respiração sem fôlego. Venha tomar ar em Vênus, que brinda a Crescente.

Teu corpo não te pertence, mas ao olhar que te deseja. Liberte-se do jugo alheio e me queira, promessa de primavera.

Desci o olhar ao tornozelo achando que não estavas vendo. Mas lá tinhas uma fita de ouro, magnífica.

Não sei o que me deu quando falei contigo. Acho que foi o veludo do teu perfume inaudito.

Pus na gaveta o que não pode ser dito. Será encontrado na serragem que sobrou da moradia, onde vivemos uma tarde de domingo.

Não sei o que é poema e o que é tua voz sincera. Talvez se misturem e não mais se reconheçam.

Fora isso, está limpo. Basta esquecer teu adeus.

Não queria admirar teus joelhos, seria excessivo, mas não tem jeito. Rótula de desejos, chave de pernas.