6 de janeiro de 2014

O SONHO DA ARTE



Nei Duclós

Ler o que está escrito
seleções do infinito
objeto letra, concreto
livro. a língua cuida
de si mesma. a chave
é o limite, que ilumina
fora da dispersão
dos títulos, cada página
grita para dentro

Ler o que está dito
imaginar só quando finda
e a leitura é a única
companhia da mente
abandonada de sílabas
A trilha foi invenção
dos bichos em direção
à água. Nela vieram índios
e depois tua estrada

Ler só o signo, camadas
superpostas de sentidos
cavar a arqueologia
do que mostra a curva
do destino, configuração
de conflitos entre ação
e fantasia, a solidão
de quem decifra
e guarda o segredo

Ler o que finda
para não perder-se
saber o tom preciso
do já posto, posicionar
os olhos para a mosca
onde se debate o choque
entre ver e ignorar-se
Não entregar-se, a não ser
para o sonho da arte

 
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Vermeer.