7 de fevereiro de 2014

ANEL DE VIDRO



Nei Duclós

Te procurei nos arquivos. Não estavas mais, anel de vidro.

Estás acompanhada. Mas o poema te tira para dançar.

Cansei de ser teu. Agora volto para a Lua.

Uma saraivada de versos para que não tenhas defesa. Assim te pego, surpresa.

Gostas sempre dos mesmos poemas. São as constelações milenares do teu céu sereno.

Você me entende. Mas eu queria mais, musa brilhante.

Precisas do poema como a terra cultivada precisa da esperança.

Arte é quando fazemos o que nos pedem do jeito que bem entendemos.

Não achei a fórmula para te dizer. Ficaram frases soltas antes de amanhecer.

Meu recital esvaziou toda a plateia. Só ficaste tu, de fundas raízes no poema. Pétala solta no chão de palha.

Lembrei daquela noite, de desencontro. Foi quando tive a dimensão do medo.

Flor em poucos dias é descartada. Mais vale um beijo, que não dura nada.

Dizia eu te amo. Agora é te gosto. Daqui a pouco será "bom garoto".

Estás ocupada, posso entender. É como se de repente o amor virasse outra coisa.

Leve meus versos, podes precisar. Depois me telefone, do alto mar.

Entendo a distância, me criticas. Pena que só vou piorar, sereia.


ESPARSOS

- Sou perda de tempo, disse ela.
- Sei disso, disse ele. Mas não estou pedindo que devolva.

Não te mereço
és uma deusa de luz
flutuas
pluma de amor
és minha poesia
amor fundo
única fantasia

Há tempos que não te vejo.
Por isso te cumprimento.
Palavra além do poema
Presença no mesmo espaço.