2 de setembro de 2014

TOQUE ENTRE AS DUNAS



Nei Duclós

O amor volta porque nunca foi embora.

Nos jogos do amor não se machuque. Aceite o corpo a corpo em gramados de doçura.

Exausta do poema, queres o que te prometo: o toque além do verbo, entre as dunas.

Sou um farol no teu mar sem fundo. Ilumino algumas ondas e o resto é abismo.

Joguei a tarrafa no sonho. Recolhi palavras de amor, cevadas por teus peixes.

Não me enxergas. Falo contigo para esconder-me.

Desapareço quando me calo. Deixo a marca, o verso apaixonado

Com o tempo vamos recuando da posição de centro avante para o de beque de espera. Depois, viramos gandulas. Um dia vamos buscar a bola perdida e não voltamos mais.

Meia idade ocupa a posição de volante no time do tempo.

Quando o domingo nasce de rosto desfigurado, é hora de redesenhar o projeto de dias melhores. Eles podem ter chuva, desde que estejas perto.

Digo coisas bonitas para ganhar tempo. O verso te aproxima, servo do sentimento.

Amor é semente que permanece. Depois do vendaval ou do incêndio, ele brota estimulado pela passagem do teu perfume.

Me esperaste de teimosa. Sabias que no fim do meu caminho havia a mesma estação da partida, onde te postaste pintando uma paisagem, o tempo circular do reencontro.

Procuras em outro o que perdeste em mim. Mas não encontras. Guardo nosso secreto caminhar a dois, intransferível, obsoleto.

Estou devagar. Nunca chego em teu ouvido. Me disperso antes, concha de convites.

Meus versos te assustam. É que tem todo tipo de anjo que sussurra o poema ainda no casulo.

Está frio, não sentes? Faça um ninho de sementes. Broto sem sossego. Revoada de lãs do teu olhar sem jeito.

Amas até não mais poder. Depois partes, me deixando só. São teus hábitos de plumas que aprenderam a voar quando não havia esperança.

Fantasiei contigo até trazer teu perfume para perto da pele. Eras pétala de algodão, cinderela.

Os sonhos se repetiram. Corri para fora em busca de aventura. Lá estavas contra a luz da Lua, súbita peregrina.

Esqueci de te dizer. Só lembrei agora. Pena que o momento passou. Vou aguardar a Lua dar meia volta

Interpuseram o muro, mas tua flor voou na haste fina e, pesada de rama, debruçou-se sobre meus pedregulhos.

Somos soma. O que vês em mim tem porções de ti.


ESPARSOS

1.
Te conheci agora, vento da tarde.
Teus cabelos enredam o fim de agosto
numa súbita homenagem
ao tempo que nos comove.

2.
Queria teu rosto tomando conta
do meu espaço.
Mas chamaria a atenção
e tiraria pedaço.

Jamais perdoam a admiração
pelo que tens de flor,
da tiara ao sapato. O espanto
da tua inteligência. o amor.


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