12 de abril de 2015

DISTRAÍDA



Nei Duclós

Pergunto por ti ao amanhecer. Estás distraída com as flores.

Economizo as imagens que me deste. Assim ficam comigo mais tempo antes de cobrirem a margem dos versos que se espalham pelo vento.

Te amo na madrugada, quando os anjos dormem.

Emoções se esvaem como água da chuva que por um tempo ficou presa na terra limitada de um canteiro. Desiste de alimentar a flor que demora.

Soa artificial o que parecia amoroso, vazio o que sugeria espírito habitado. É quando os laços entre os corações se rompem.

Escrevo para que me esqueças. Um dia lembrarás, açucena.

De qualquer tempo ficará o poema. Palavra sobrevivente, rastro de estrela.

Vejo você distante e não acredito. Tive a chance mas morri tentando.

Há tempos não escrevo os versos que eletrizam. Perdi o estímulo que vinha da tua fonte.

Caímos na vala comum dos amores que se partem. Somos mendigos de um sentimento que tinha o perfil da arte.

Achei que esperar fazia parte da magia. Mas era entulho atrapalhando a carruagem movida a suspiros.

Agora que decretamos o corte oficial da nossa liga, posso dizer eu te amo na solidão infinita.

Tinha esperança, mas o adeus foi definitivo. Ainda nos falamos, cintura de delírio.

Amor é como a flor oportunista que medra em planta alheia. Uma ilusão dentro da outra, a vida escondida na areia

Te espero em outra encarnação, quando formos desconhecidos. Nesta estamos próximos demais, a anos luz da sintonia.

Não faça pouco do sentimento. Depois de rir na frente dos outros, choras em teu quarto jogado às traças.

Pela vida, passamos lotado. Só nos damos conta quando o ponto fica para trás. Aí descemos, na estrada escura da eternidade.

Escolhi as palavras no mercado. Estavam meio passadas, mas serviram. Com elas montei um alçapão para apanhar o Tempo, que insiste em fugir pelos matos

Monitorar o sentimento alheio é a pior espécie de violência.

Seremos melhores, quando o amor retomar o posto no nosso coração sem esperança.

A chuva forte torna o sábado menos culpado. Podemos nos recolher ao livro que ainda não escrevemos.

Discordo de ti até o osso. Mais um motivo para estarmos juntos.


 
ABRIL AZUL

Bom dia, abril, mês bonito. Vens do leste, da brisa. Não sinto vergonha da poesia que despertas sem conflito. Escorres, mel do clima.

Quando não tenho o que dizer, digo céu azul.

Não sei se você viu a lua. É um pinguinho branco no miolo do azul.

Farinha de nuvem na mesa firme do fim de março.

Falo por nuvens. Ela responde por céu azul.

Perfil escuro de folha em dia claro no muro.

A romã toma um banho de nuvem.

O céu azul escreve em nuvens

O.  azul do céu é uma ilusão. O cosmo é frio. A forja do sol é tempo bom?





POEMAS MÍNIMOS

Não sei quem é
mas vou descobrir
Basta que um de nós
pronuncie a palavra
amor
*
Não é questão de gostar ou de querer.
Ou mesmo de amar.
É não poder viver sem.
É diferente.
*
Não mando
Cartas
De amor
Obedeço
*
Limpinho
O poema
Sem riscos
Só a poeira
Invisível no bolso
Interno do delírio
*
Desafias o mar,
mas ele está em outro patamar.
O mar cultiva teu canto de sereia
em vez de gestos radicais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário