11 de junho de 2015

MOFO



Nei Duclós

Por mais que extraia flor
do granito que protege a gruta
e aguarde o líquen cair em gota
sobre a fonte azul rupestre

e haja sinais de esgotamento
no arfar do tempo datado
em séculos de pedra
sem vislumbrar saída

Por mais que eu viva no mergulho
deste ofício sem futuro
sempre haverá uma nesga de sol
caída por acaso em raiz úmida

Lá medra o poema, insistente vício
velado por ancestrais sem batismo
os que se confundem com a mata
ainda em sobrevida, cegueira da serra

Tímida tabuleta de vidro, escrito
pelas paredes de uma cachoeira
que se reproduz em série adventícia
lixo do maná, erva de bicho

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