25 de setembro de 2015

INCLUAM JESUS FORA DISSO



Nei Duclós

Jesus não era socialista. Isso é anacronismo grosso.
Também não era operário, era filho do dono.
No caso, o dono, José, não era carpinteiro, mas empreiteiro. Ele se encarregava das construções contratadas pelos ricos da Judeia e pelos romanos, que dominavam a área. Eram serviços de grande responsabilidade, que incluíam os préstimos de pedreiro, carpinteiro etc., assumidos por parentes, amigos, agregados, mestres de ofício etc.

Jesus foi iniciado nos trabalhos do negócio paterno como colaborador e herdeiro, da mesma forma que teve formação espiritual apurada, frequentando o templo desde cedo.
Colocar o cristianismo no âmbito marxista é aparelhagem política oportunista sacana, assim como colocá-lo a serviço dos reaças.
Meu Reino não é deste mundo dizia ele. Ou seja, não fazia parte dos interesses, das celeumas, das questiúnculas políticas e religiosas. Francisco deveria prestar atenção no que seu Mestre diz.

Ao mesmo tempo, Jesus não se negava a encarar os poderes, usando seu domínio da palavra, seu discernimento e sabedoria. Devolver a moeda do tributo ao cobrador do imposto, não cair na armadilha da pergunta sobre a verdade, denunciar a exploração comercial da religião são alguns feitos famosos de sua ação.

O Papa Francisco não tem densidade teológica e fica à mercê do vento. Faz sucesso, mas à custa da doutrina que representa.
O Papa é falível. Contraria o dogma da infalibilidade papal.
Não pode colocar Cristo como a representação do Che Guevara, mesmo não tendo intenção para isso. O marxismo já fez esse serviço ao destacar a iconografia do Che como um Jesus crucificado. Pasolini também fez um Cristo revolucionário, pardo, pobre que fez muito sucesso nos anos 60. Tão equivocados quanto as representações medievais do Cristo loiro.

Há muita diferença em relação a João Paulo II (nome que homenageia o papa assassinado, João Paulo I), que passou um pito no bispo de esquerda na frente das câmaras. Precisa ter poder espiritual e temporal para isso. Não basta ser contra o câncer, a destruição do meio ambiente, da guerra ou ser a favor dos migrantes.

Jesus não era um desamparado. Seus pais foram para a manjedoura porque Belém estava lotada na Páscoa. José tinha recursos para pagar uma hospedaria. Foi um problema de lotação, não de exílio ou marginalização. Fugiu para o Egito na perseguição, mas conseguiu ir e voltar depois, pois fazia parte das familias abastadas.

Ele teve segurança financeira suficiente para ficar em casa até os 30 anos desenvolvendo sua doutrina. O que foi difícil, mesmo sendo filho de Deus. Ponha-se no Seu lugar: decidir abandonar a confortável casa paterna (e negá-la publicamente depois, no auge da pregação), reunir discípulos e doutrinar a massa.

Parafraseando o grande frasista Vicente Mateus, incluam Jesus fora disso. É preciso sobriedade e conhecimento para não cair na tentação de usar Jesus politicamente.


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