5 de novembro de 2015

LUTO, DO VERBO LUTAR



Nei Duclós

Tudo e suportável quando a vida não enfrenta a dor maior de uma perda de alguém tão próximo que faz parte do nosso corpo e do nosso sangue. Quando perdi minha mãe, o impacto foi tão fundo que prometi não comparecer mais a enterro nenhum. Não imaginava um funeral com meu próprio filho.

O luto tem sido insuportável, mas assim mesmo imaginava poder ter forças para cumprir meu compromisso com a Feira do Livro de Porto Alegre hoje. Peço desculpas aos organizadores, que abriram generosamente espaço para meu novo romance, ao patrono e amigo Dilan Camargo e a todas as pessoas queridas que iriam me abraçar neste momento difícil. Mas não consegui me mover do lugar onde sepultei meu amado Miguel.

Meu livro é sobre o sacrifício de vidas que procuram transcender sua passagem terrena numa missão, numa obra árdua. Protagonistas reais e inventados enfrentam a dor da perda e a luta permanente por uma nação aos pedaços. Assim é que sinto o Brasil, envolvido com a morte prematura de tantos jovens, completamente partido como país e comprometido em seu futuro. Só nos resta nos manter focado em nossa missão, carregando junto o amor insubstituível de alguém que vi nascer, crescer, se realizar e morrer.

Deus nos ajude a nos convencer de que isso realmente aconteceu. Por mais palavras de apoio, jamais vou me conformar. A vida segue numa luta sem fim.

Estamos de luto, que é a radicalidade da morte. E é também do verbo lutar, que é a radicalidade da vida.


Um comentário:

  1. Anônimo11:24 AM

    Deus te abençoou com poesia, essa força de amor maior. Lute com ela, por você, por ele, por tudo. É Vida.

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