10 de abril de 2016

A MORTE DE ADÃO



Nei Duclós

Depois da Queda, pó da humanidade
que gerara em longa investidura
marcado em desavença dos seus filhos
a marca do Mal no jarro da linhagem
com vestes ainda rotas pelo Arcanjo
mas esquecido como obra e paradigma
ele cai, irreversível e já sem fibra
exausto da existência em sua origem

Aprendera a perdoar e a ser cativo
da vida construída em companhia
sabor da maçã e da harmonia
pecado que inventou por ter sabido
o quando dessa vida se surpreende
quando a palavra cumpre seu destino
Ele tomba numa tarde como as outras
o suspiro vem do brilho sobre a cama

De Deus não esperava uma visita
derradeiro laço no sopro da herança
mas há o consolo de uma breve brisa
que bate em seu rosto de convicto
à sombra da brutal desconhecida
a que nasceu depois de decidido
o desconforto que domina o Paraíso
como início do cerco da cobrança

Primeiro homem que agora vira espuma
adubo de um futuro em solo firme
ninguém viu o terror da despedida
o visgo do herói mais intranquilo
que não merece as preces do lirismo
e é apenas um dom das escrituras
o que viveu no privilégio e desperdício
e carregou consigo o fardo da fortuna


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