28 de maio de 2016

A FÉ



Nei Duclós

A fé é uma idiotia
quando a mente obriga
e uma rotina
se a emoção comanda

A fé é uma outra via
membrana no limite
de realidades sem vínculo
fronteira entre a origem
e o esquecimento

Acredite, diz a vida
ou nos reduzimos ao granito
dance o gesto mínimo
de uma agulha em queda
sobre o abismo

A fé é vã filosofia
se a gruta ocultar no deserto
a escritura. A revelação
concede o que religa a alma
à sua fonte íntima

A parábola ou o salmo
são palavras que dormem no Livro
Recite sem pedir ajuda
talvez nem leia, peça licença
para uma abertura

Ou salvamos a fé de seus equívocos
ou a guerra vencerá
em toda a linha.
Água de batismo, prece convicta
e a natural vontade
ao apagar na areia

Ouro de bateia, a fé é ofício
não serve para emoldurar igrejas
nem comprar o púlpito
faz parte da razão e sua rústica
comunhão de trigo

Porque raciocina, Deus vê
o obscuro apelo do monturo
Pula o muro a cabra em pastoreio
o corpo migra da oração
para a argila. É o abandono
que inventa a pedra sem conflito

Convívio de opostos
exatidão de cismas, a religião
é a sombra do sepulcro
O espírito visita a claridade
Há uma cidade à espera
da áspera profecia


RETORNO - Imagem desta edição: obra de Picasso.

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